Ninjas Gaiden
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Mensagem por Akimichi Karina Seg maio 07, 2018 12:04 am

Contos QwWNKvN

Ninjas Gaiden Hiden, ou simplesmente Crônica Secretas do Ninjas Gaiden, é uma forma de explorar histórias que pertencem a este universo shinobi. Tais contos aqui explorados podem se tratar dos acontecimentos relacionados à atualidade no RPG ou mesmo ocultos que sequer foram mencionados anteriormente.

Siga os links deixados abaixo e descubra cada segredo que permeia nessas histórias não-vivenciadas pelos participantes do RPG.


Hiroshi: Oh! Você por aqui! Sabia que eu sou -ou melhor, era- conhecido como o maior contador de histórias dentro de Konohagakure? Posso expandir sua mente em relação aos acontecimentos principais ou mesmo de histórias de demais shinobis, queridos ou não por você, que agregam ao universo do qual vivemos. Ora, não tema! Venha comigo para se atentar em cada detalhe importante destes contos!


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C O N T O S




Última edição por Akimichi Karina em Seg Jan 21, 2019 1:31 am, editado 3 vez(es)
Akimichi Karina
Akimichi Karina
Chunnin


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Contos Empty Hiden: Amatsu

Mensagem por Akimichi Karina Seg maio 07, 2018 12:04 am

HIDEN - A M A T S U

Acima dos Laços de Sangue
Contos JuOpZr3

ATO I
Vale das Folhas Verdes — 47 anos atrás

O legado dos Shinobi vive desde os primórdios da civilização moderna. Ninguém sabe, exatamente, como a arte conhecida como Ninjutsu nasceu ou onde se iniciou, mas disseminou-se de tal forma que passou a ser algo comum na vida de todos que andam sobre estas terras. Conforme a sociedade fora evoluindo e se especializando em Ninjutsu, diversas famílias passaram a desenvolver características especiais, que foram passadas de geração em geração e apenas compartilhadas com os seus próprios membros. Foi assim que se geraram os Clãs.

Um clã é um grupo de pessoas que compartilham do mesmo sangue e habilidades especiais. Eles prezam pela sua família e os seus segredos, protegendo-os com a própria vida. A maioria dos clãs focam no aprendizado e treinamento de Ninjutsus próprios, buscando o fortalecimento pessoal, dessa forma, muitos dos clãs passaram a se tornar mercenários — trabalhavam em troca de recursos e vantagens para fortalecer a própria família e receber mais espaço em um mundo hostil e desorganizado.

Os conflitos por dinheiro e território passou a ser comum conforme os clãs buscavam por poder; com mais poder, poderiam aumentar ainda mais os seus clãs, assim tendo a possibilidade de adquirir ainda mais força militar e subjugar os concorrentes. Tais conflitos se seguiram por décadas por todo o continente ninja, sendo as mais sangrentas concentradas na região central, onde residiam os poderosos clãs Hyuuga, Chinoike e Uchiha, conhecidos pelos temíveis Dojutsu (Técnicas Oculares), o Byakugan, Ketsuryugan e Sharingan, respectivamente.

A região central — que hoje conhecemos como o País do Fogo — era a área mais fértil e com as temperaturas mais amenas de todo o continente, provendo assim melhor qualidade de vida e maiores possibilidades para a produção de alimentos, principalmente envolvendo a agricultura e pecuária. Graças a tais fatores, essa era a área com a maior concentração de clãs ninja, portanto, os conflitos eram constantes e apenas os mais fortes conseguiam um pedaço daquela boa terra. Entre os três maiores territórios estavam o do Clã Hyuuga, o mais poderoso entre todos e mais individualista, os Clãs Chinoike e Uchiha, os mais pacíficos, apesar de poderosos quando em conjunto, e os Clãs Akimichi, Nara e Yamanaka que, apesar de também serem pacíficos, temiam os Dojutsus dos seus concorrentes.


Território do Clã Akimichi — 47 anos atrás

Chinoike Amatsu era tão bela que, naquele lugar, parecia uma verdadeira obra de arte. Sua pele branca parecia ser a mais pura, contrastando com os sedosos cabelos negros que lhe chegavam até o meio das costas. Os olhos negros e seremos combinavam e muito com o sorriso calmo e até mesmo sonhador da Princesa Chinoike. O mundo parecia parar diante da presença da garota. O sol brilhava mais intensamente apenas para iluminá-la, o vento seguia os seus movimentos e os pássaros cantavam conforme ela passava. Aquele era o segundo lugar que Amatsu mais gostava de estar. O som da cachoeira, que mais parecia um véu esbranquiçado, caía tranquilamente em um riozinho raso em meio a um campo de flores. Aquele era um dos poucos lugares intocados pelos conflitos constantes que assolavam aquela região, portanto a Chinoike o visitava sempre que conseguia.

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A garota sentou-se na margem, admirando as gotículas brancas se misturarem na água cristalina. Retirou as sandálias e pôs os belos pés no rio, rindo baixo enquanto sentia a refrescância da água geladinha em sua pele. Apoiou as duas mãos na grama baixa e aproximou o rosto de um pequeno dente de leão, reunindo ar em seus pulmões e soprando suavemente, observando os pequenos “guarda-chuvinhas” brancos desaparecerem com o vento.


???: Acho que você não devia estar aqui — disse uma voz masculina logo atrás da Chinoike, assustando-a.


A garota rapidamente se elevou, mantendo os pés ainda na água fria e encarando o rapaz abaixado atrás de onde sentava-se antes. Suas vestes eram brancas e simples e os cabelos castanhos também não possuíam nada demais, entretanto, aqueles olhos... Os olhos do rapaz eram de um suave branco perolado, envolventes e misteriosos. Pareciam atravessar Amatsu facilmente e ver tudo o que havia em seu âmago. Estava intrigada com ele ali, mas sabia muito bem de onde vinha: o Clã Hyuuga.


Amatsu: Posso dizer o mesmo a você — respondeu a morena, mantendo o contato visual constante.

???: Ei, calma, eu não vim brigar, eu juro — disse o rapaz rapidamente, lá se levantando também. Esticou uma mão para a garota, acompanhado de um sorriso que, para a desconfiada Chinoike, parecia sincero. — Eu sou Hyuuga Rikyu, é um prazer conhece-la.

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Os olhos negros de Amatsu fitaram a mão estendida por alguns segundos, voltando então para o rosto do rapaz. Ele parecia tão sereno e amigável que a fazia desconfiar. Chinoike Amatsu detestava conflitos e acreditava que tudo poderia ser resolvido com um bom diálogo entre as partes envolvidas, entretanto, em um tempo como aqueles, ela não poderia se dar ao luxo de confiar em qualquer um que aparecesse na sua frente. Amatsu era sim uma pessoa boa e amigável, mas também não era burra. Manteve o olhar nas orbes brancas e límpidas de Rikyu, até finalmente retribuir o aperto. Esperava não estar cometendo um erro.


Amatsu: Chinoike Amatsu, o prazer é todo meu — apresentou-se também, esboçando um pequeno sorriso nos lábios rosados.

Rikyu: E o que você faz por aqui, Amatsu-chan? — perguntou o rapaz, também retirando os calçados para aproveitar a água do riacho. Amatsu franziu o cenho com o novo “apelido”, estranhando tudo aquilo. Tensa e desconfiada, sentou-se ao lado do rapaz, mas um tanto afastada. Quando voltou-se para eles, seus olhos se encontraram mais uma vez, e a Chinoike não viu nenhuma outra alternativa além de responder.

Amatsu: Eu... eu gosto daqui. É um dos poucos lugares onde a natureza ainda está intocada e... — ela olhou em volta, não evitando o sorriso, para enfim fitar novamente o rosto e Rikyu — esse lugar é lindo.


Os dois jovens ficaram calados por um tempo, um mantendo o olhar sobre o outro. Apesar dele não parecer uma ameaça, Amatsu sentia-se cada vez mais nervosa. Nunca estivera tão próxima de um garoto antes, principalmente de um clã inimigo. Não sabia mesmo o que dizer ou fazer diante daquela situação. Talvez apenas ir embora dali fosse uma boa opção, mas conforme vislumbrava aqueles olhos brancos e puros, mais capturada por eles a Chinoike se sentia. Percebendo o olhar da Princesa sobre si, as sobrancelhas de Rikyu elevaram-se, perguntando em seguida:


Rikyu: Algo de errado? — sua voz em um tom suave, duvidoso e envolvente.

Amatsu: Os seus olhos são tão lindos — soltou, sem perceber o que acabara de falar.

Rikyu: Imagino que você utilizando o Ketsuryugan deve ser ainda mais bela — elogiou-a com um sorriso, que fez o peito de Amatsu querer pular do tronco.


Quando a morena abria a boca para responder — ou não também, de tão perplexa e encabulada que estava —, um grito grave e ameaçador reverberou pela campina. A dupla pulou assustada, notando o guarda Akimichi correndo na sua direção há algumas dezenas de metros de distância, expulsando-os do terreno. Sem hesitar, Rikyu pegou a mão de Amatsu, puxando-a para a floresta que delimitava o território dos Akimichi para que pudessem escapar antes da punição.

Sem olhar para trás em momento algum, a dupla correu velozmente na direção das árvores. A mão de Rikyu estava quente e levemente suada, e a Chinoike se perguntava se era por conta do nervosismo de serem pegos em um território inimigo. Não pensou em mais nada até estar bem longe do território Akimichi. Quando estavam a uma distância segura, Rikyu soltou a sua mão; ambos apoiaram-se em uma grande árvore, ofegando fortemente enquanto tentavam recuperar-se do susto e da corrida.


Rikyu: Como pode invadir territórios assim? Você é louca? — perguntou o Hyuuga em meio às risadas, recendo um olhar irritadiço da Chinoike ainda ofegante.


Quando a garota finalmente recuperou o fôlego e da vermelhidão, perguntou ao rapaz:


Amatsu: Eu te disse o que fazia lá... mas e você?

Rikyu: Ah, está ficando tarde — olhou em céu parcialmente encoberto pelas folhas antes de voltar o olhar para a Chinoike — acho que terei que te contar em outro encontro. — Deu uma piscadela acompanhado de um sorriso antes de simplesmente desaparecer da presença da Chinoike.


Perplexa, Amatsu apenas abaixou a cabeça, tentando disfarçar a vergonha e a vermelhidão que tomava conta do seu rosto. Fitou os pés descalços, mexeu os dedos algumas vezes, até lembrar que havia esquecido os calçados no riacho.


Amatsu: Droga.


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ATO II
Vale das Folhas Verdes, Território Neutro — 47 anos atrás

Rikyu: Konohagakure? Que nome besta! — exclamou o Hyuuga em meio às risadas, fazendo o rosto da Chinoike avermelhar-se em irritação.


Aquele era o lugar favorito de Chinoike Amatsu em todo o mundo. A Princesa Chinoike e Hyuuga Rikyu estavam sentados, com as mão entrelaçadas, no alto de uma extensa montanha que não fazia parte do território de qualquer clã. Após alguns encontros, a maioria arruinados graças às intromissões, Amatsu e Rikyu haviam encontrado aquele lugar isolado e sem qualquer interesse, mas após se encantarem com a vista dali, tomaram como o seu ponto de encontro oficial. Após vários meses de encontros, resolveram admitir que estavam perdidamente apaixonados e simplesmente namorar de uma vez.

A vista era tão bela que deixava a morena sem fôlego. De onde estavam, podiam enxergar toda a extensão do Vale: um tapete de folhas verdes sem fim, que contrastava com o claro e límpido azul do céu. Naquela altura, o vento era forte, tanto que arrancava as folhas das árvores, fazendo-as dançarem livremente no ar até caírem em uma queda livre e suave até o pé da montanha, onde voltavam a misturar com o verde das árvores no solo.


Amatsu: Não está vendo? É exatamente por isso — sinalizou com a mão aberta para a paisagem. — Vila da Folha Oculta, assim como as folhas das árvores. Apesar de dançarem sozinhas ao vento, ainda fazem parte de um todo, forte e unido. É com isso que eu sonho — comentou sonhadora, comum sorriso para Rikyu.


O Hyuuga pegou uma folha no ar, fitando-a com seus olhos perolados.


Rikyu: Konohagakure. Uma vila que reuniria todos os clãs para o único propósito de crescimento coletivo e unido — o Hyuuga estreitou os olhos, fazendo com que algumas veias saltassem da sua pele e os rodeasse. Amatsu sabia que agora ele não via apenas a folha, mas a floresta inteira. — Lutando juntos cada dia e cooperando uns com os outros para melhor estabilidade, felicidade e paz. É... não é um nome tão ruim. Na verdade estou cada vez mais gostando dele. — Involuntariamente, ambos apertaram as mãos entrelaçadas com um pouco mais de força. — E pra fechar com chave de ouro, uma montanha com o seu rosto esculpido, você vai ser a líder, certo?

Amatsu: E-eu? líder? — perguntou a garota, envergonhada, mas pensativa. — Eu não acho que sirva para liderar... apesar de ser tentador. Mas o Raikage, Mizukage e Tsuchikage são muito mais experientes que eu, tanto que já conseguiram erguer as próprias vilas ninjas. Na situação atual... eu não sei se conseguiríamos tamanha aliança, por isso é apenas um sonho. Se pelo menos os outros clãs parassem para ouvir o que eu tenho a dizer — explicou a Chinoike, tristonha.

Rikyu: Se parassem para ouvir o que você tem a dizer, todos se apaixonariam — respondeu Rikyu, fitando a morena com um sorriso — assim como eu.


Amatsu abriu um largo sorriso para Rikyu, que puxou-a para um abraço e deu-lhe um beijinho no topo da cabeça. Seus corações sonhadores batiam fortemente enquanto imaginavam, naquele vale, uma majestosa vila onde todos conviviam felizes e em harmonia com seus semelhantes. Perdidos em seus devaneios, nem mesmo perceberam quando várias folhas soltam caíam sobre si.

Já era entardecer quando o casal caminhava em meio à floresta, atentando-se aos limites territoriais para não causarem qualquer problema. As mãos estavam fortemente entrelaçadas e o casal aproveitava daquele silêncio mútuo. Chinoike percebia que, como sempre, as mãos de seu namorado estavam levemente suadas. Conteve o riso, continuando a caminhar ao lado de Rikyu até finalmente alcançarem a extremidade do território dos Chinoike, onde se despediram de mais um encontro. Após um beijinho rápido, o Hyuuga observou a Princesa Chinoike desaparecer do seu campo de visão, para enfim seguir o seu próprio caminho.

Após uma longa e despreocupada caminhada, Rikyu chegou ao seu próprio: o território do clã Hyuuga. Logo que passou por um dos guardas que faziam a ronda naquele momento, lhe fora informado que o líder do clã o aguardava em seus aposentos. Com um breve aceno, o rapaz caminhou pelas várias casas e pessoas com o mesmo Dojutsu, até parar diante da maior das mansões do seu clã, a residência do líder Hyuuga; ou como preferia chamar, de casa.

Assim que afastou a porta de correr, os olhos perolados caíram sobre a figura imponente do líder Hyuuga.

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Rikyu ajoelhou-se de frente para o homem, fazendo uma exagerada reverência, para enfim perguntar:


Rikyu: Requisitou minha presença, otou-sama?

Shigeo: Serei direto pois já sabe do que esta conversa se trata — Rikyu assentiu, baixando mais a cabeça. — Por que essa demora para cumprir sua parte do acordo? Dei-lhe tempo mais do que suficiente para ganhar a confiança da princesa dos Chinoike.

Rikyu: E-ela e desconfiad- — acidentalmente elevou o tom de voz.

Shigeo: Abaixe o tom! — interrompeu-o de imediato. — Por acaso está indo contra as decisões do seu próprio clã?

Rikyu: Não, senhor.

Shigeo: Pois bem. Quero que a traga amanhã mesmo aos terrirórios Hyuuga. Iremos capturá-la e utilizar de isca para atrair os Chinoike ao anoitecer — seu tom autoritário soava incontestável. — Não falhe comigo.


Rikyu tomou uma respiração pesada antes de responder:


Rikyu: Sim, senhor.


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ATO III
Vale das Folhas Verdes, Território do Clã Hyuuga — 47 anos atrás

Amatsu: Aonde está me levando, Rikyu-kun? — perguntou a Chinoike, um tanto nervosa após perceber que caminhavam no território do clã Hyuuga.

Rikyu: Não precisa ficar nervosa, tudo bem? — acalmou a garota, acariciando de leve a mão entrelaçada a sua. — Estou te levando para um lugar especial, muito importante para mim. Há tempos eu quero te levar lá e hoje vou ter essa o-oportunidade — Amatsu não percebeu quando a voz do rapaz falhou.


Continuaram a caminhada calma em meio às árvores naquela bela manhã. Amatsu pôde perceber que as mãos do seu namorado, como sempre, estavam suadas, entretanto, mais do que o normal. Imaginava que era por ele estar quebrando algum tipo de regra trazendo-a para aquele lugar, mas acreditaria nele que não haveria qualquer problema.

O casal logo parou em um ponto qualquer em meio à vegetação. Não havia nada ali além de árvores. O Dojutsu de Rikyu, o Byakugan, estava ativo e, percebendo que já estavam cercados por membros do clã Hyuuga, parou ali. Respirou fundo, murmurando um rápido “me desculpe”. Antes que a Princesa Chinoike pudesse entender o que estava se passando, Rikyu soltou-a, apenas observando quando vários shinobi saltavam das proximidades e imobilizavam a garota com o Juuken.


Rikyu: Levem-na para o centro do território, como otou-sama ordenou. Eu... eu vou dar uma volta para evitar suspeitas. Não façam nada, ela precisa estar ilesa — finalizou, voltando-se para o outro lado e caminhando para fora do território dos Hyuuga, com o olhar vidrado e as mãos sobre as têmporas.


Rikyu sentia como se o seu peito estivesse prestes a implodir e todos os seus órgãos conflitassem entre si. O que acabara de fazer? Como pudera trair a confiança da pessoa mais importante para si? Que lhe mostrar o que é amar? Tantos sentimentos misturados enlouqueciam o Hyuuga de tal forma que nem mesmo percebera que, inconscientemente, rumava para o território do clã Chinoike.


Vale das Folhas Verdes, Território do Clã Chinoike — 47 anos atrás

Vozes chamavam pelo líder do clã Chinoike do lado de fora de sua mansão, alertando-o de um invasor no território. O homem de aparência experiente, com desgrenhados e volumosos cabelos negros, surgiu em frente à sua casa possuindo um severo olhar sobre o invasor capturado.

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Com os braços segurados de cada lado por um membro do clã Chinoike, Hyuuga Rikyu mantinha a cabeça abaixada até notar a presença do maior. Ergueu a face mostrando seu olhar perdido e feições abatidas, inchadas devido a recentes lágrimas.


Rikyu: A Amatsu... Amatsu-chan... ela foi... ela foi capturada pelo... pelo meu clã — explicava o Hyuuga, em meio ao choro e os soluços.

Ashitsu: Rikyu, certo? O que faz aqui? — soou impaciente com o tom de voz grave utilizado. — Melhor: onde está minha filha?

Rikyu: M-me... me perdoe... eu sinto muito.


Um breve silêncio se fez presente. Os membros do clã apertaram mais os braços do garoto enquanto o líder estreitava o olhar.


Ashitsu: Irá sentir mais ainda se não me responder.

Rikyu: Amatsu... ela foi levada... — engoliu seco antes de prosseguir. — Meu clã é o responsável.

Ashitsu: Seu clã ou você?


As palavras causaram um grande aperto de imediato no coração do Hyuuga, paralisando-o sem que conseguisse responder. Os guardas que o seguravam não notaram isso, mas Ashitsu notou. Aquelas feições culpadas e arrependidas não passaram desapercebidas. Fechando os punhos em fúria o líder continuou:


Ashitsu: Não precisa mais responder. Eu já compreendi o que aconteceu. — caminhou alguns passos para próximo do garoto, acabando por fazer os guardas o levantarem mais. — Essa armadilha ridícula não irá funcionar. — falou próximo ao ouvido de Kyu e deferiu-lhe um forte soco no estômago, fazendo-o cuspir sangue e cair no chão quando os guardas o soltaram. O líder se afastou após isso seguindo se volta para sua mansão. — Levem-no para um interrogatório. Iremos descobrir o que aconteceu com a Amatsu.

Rikyu: E-Espera!! — gritou com todas as suas forças enquanto caído no chão exaurido. Suas mãos fincavam no solo com força e o marcava, ferindo a própria mão do Hyuuga que sangrava. — Não me importo com o que farão comigo... mas não deixem que façam nada com ela! Ao menos impeçam meu clã!! - gritou antes de afundar a cara no chão, voltando a soltar lágrimas. — Eu suplico por isso...


Os guardas estavam prontos para retirarem o Hyuuga do chão quando Ashitshu deu um sinal com a mão. Seu olhar superior se manteve a todo instante, focando exclusivamente na face do garoto.


Ashitsu: O que seu clã pretende?

Rikyu: Usá-la como isca para matar todos vocês hoje à noite... estão ocupados planejando tudo agora, seriam pegos de surpresa se fossem atacados.

Ashitsu: Levem-no para ser tratado. Depois contatem os Uchiha — ordenou aos guardas que levantavam Rikyu do chão. — Seja uma armadilha ou não, hoje será a queda dos Hyuuga.


Vale das Folhas Verdes, Território do Clã Hyuuga — 47 anos atrás

Shigeo: Isso é tudo pelo bem do meu clã, acredito que você entenda o que estou fazendo, princesa — balbuciou o líder do clã Hyuuga, observando a Chinoike à sua frente, ajoelhada e amarrada com os braços para trás.


Chinoike Amatsu não respondeu, permanecendo com o olhar fixado em qualquer ponto que não fosse o homem a sua frente. Apesar das dores, fraqueza e tontura que sentia, esforçava-se para manter-se firme diante do clã Hyuuga. A cabeça da garota doía fortemente, tentando entender o que se passava. Não podia acreditar que tivesse sido traída por Rikyu, nem em como aquele clã poderia ser tão cruel.

Sem qualquer aviso, o som de uma explosão ecoou por toda a mansão, fazendo com que a cela em que Amatsu e Shigeo se encontravam tremesse. Dali, podiam ouvir diversos gritos, principalmente de avisos como “ESTAMOS SOBRE ATAQUE” acompanhados dos ruídos de metais se chocando. A expressão de Shigeo ficou ainda mais sombria e, determinada, Amatsu começou a se remexer, tentando soltar-se das cordas mesmo que inutilmente.


Amatsu: Parem! Por favor, parem antes que hajam mortes! — suplicou Amatsu, elevando a cabeça para fitar Shigeo. Seus olhos já brilhavam com as lágrimas.

Shigeo: Cale a boca! — gritou o Hyuuga, chutando a barriga da Chinoike, fazendo-a soltar um grito sufocado e tossir fortemente. — Cubram a boca dela, certifiquem-se de que ninguém vai encontrá-la.


Após um rápido “sim, senhor”, um dos guardas amarrou um pedaço de pano em volta da boca de Amatsu, impedindo que esta pudesse falar, para enfim deixarem a sala, trancando a porta. A Chinoike permaneceu parada no mesmo lugar, permitindo-se, pela primeira vez naquele dia, que as lágrimas escorressem pelas suas bochechas suadas. Diversas imagens dos seus amigos e familiares perecendo em combates sem sentido passavam rapidamente pela mente da morena. Por que precisavam lutar tanto? O choro silencioso continuou enquanto Amatsu se desligava do mundo, tentando não ouvir o embate que ocorria na mansão Hyuuga.


Rikyu: Amatsu! — o grito ecoou pela cela, assustando a Chinoike e a fazendo saltar no mesmo lugar, elevando a cabeça rapidamente para poder enxergar Rikyu.


O Hyuuga rapidamente abaixou-se em frente à garota, tocando delicadamente o seu rosto e ajeitando os cabelos que lhe caíam sobre a face. As lágrimas rolavam com ainda mais intensidade, enquanto os olhos negros fitavam os perolados em súplica, para que a ajudasse a parar aquele embate.


Rikyu: Eu... eu não mereço ser perdoado pela minha monstruosidade... — murmurou o rapaz, enquanto retirava o pano que impedia a Chinoike de falar. — Eu não mereço nem o meu clã — por fim libertou Amatsu das amarras, que caiu sem forças sobre os braços do Hyuuga. — Eu... eu irei resolver isso. Por favor, fique segura aqui. Protegerei o máximo de membros de seu clã — disse enquanto tocava-a levemente no queixo, aproximando para um rápido selinho. Se levantou após isso confiante e sem o menor temor. — Para realizar nosso sonho, problemas no caminho como o meu clã precisam ser exterminados — fez um breve pausa antes de dar um último sorriso para Amatsu — Eu te amo.

Amatsu: R-Rikyu! Não! — gritou a morena no chão, tentando elevar-se dali, esforçando-se ao máximo para poder seguir o seu amado até o campo de batalha.


A Chinoike arrastou-se pelos corredores da mansão, grata por não ser notada por nenhum membro do clã Hyuuga. Esgueirou-se até o salão principal, onde a visão aterrorizante fez a garota retesar-se por completo. Diversos shinobi os clãs Hyuuga, Chinoike e Uchiha lutavam entre si e, mesmo que pouco tempo tivesse se passado, o chão já estava coberto de cadáveres de ambos os clãs, tingindo o salão de um vermelho terrivelmente vivo. No centro, Hyuuga Shigeo e Chinoike Ashitsu trocavam velozes golpes. Os dois apresentavam diversos ferimentos por todo o corpo, além de manchas de sangue em suas roupas. Logo os dois líderes se afastavam, mantendo o contato visual constante enquanto preparavam o próximo movimento. Ao primeiro centímetro de diferença, ambos saltaram para os seus golpes finais, entretanto, antes que pudessem atingir-se, Rikyu surgiu entre os dois, girando em seu próprio eixo para expelir chakra e afastar os dois líderes. Hyuuga Shigeo fitava o filho com fúria, como se estivesse prestes a explodir e levar todos os três clãs à destruição de uma só vez.


Shigeo: TRAIDOR! — urrou o Hyuuga, enfurecido. — Revelou nosso plano! Traiu o seu clã! Assassinou o próprio sangue! Sequer o considero mais como um filho...

Rikyu: Eu vou te parar — disse o filho, apontando as mãos abertas do conhecido “punho gentil” para o pai, adotando a posição do estilo de luta característico do seu clã — seja como um líder, seja como pai!


Rikyu não hesitou, saltando na direção do pai, preparando-se para atingi-lo no peito, quando Shigeo simplesmente desviou, abaixando-se um pouco e desferindo um golpe em vertical com a mão espalmada no queixo do filho. O impacto e chakra empreendido no golpe fora o bastante para lançar Rikyu ao alto, atordoado. Quando o rapaz se recompôs no ar, já era tarde demais; percebera que seu pai já adotara a pose para a utilização do Hakke Sanjuni Sho, do qual um círculo de 8 trigramas podia ser visualizado abaixo de ambos. No instante seguite Shigeo aproximou-se do filho, desferindo uma sequência de palmadas enquanto se aproximavam do chão. Antes de Rikyu colidir com o assoalho, Shigeo deu o golpe final: uma poderosa palmada no tronco do filho que rompeu os órgãos internos do rapaz de uma só vez. Uma grande quantidade de sangue jorrou da boca do Hyuuga mais novo, até que este encontrou o solo, sem qualquer resquício de via.


Ashitsu: Fazer isso com o próprio filho... você é repugnante! Esse clã é repugnante! — exclamou o líder do clã Chinoike, antes de avançar mais uma vez contra Shigeo, trocando sequências e mais sequências de golpes.


Distante dali, Chinoike Arisu permanecia estática, em choque pelo o que os seus olhos acabaram de ver. Parecia que um buraco havia se formado em seu peito, como se algo de extrema importância lhe fosse roubado. O rosto de Rikyu, sem vida e sem expressão estava gravado fortemente em sua mente, tentando processar o ocorrido. Era mentira, não era? Rikyu não podia estar morto. Não agora, não assim, não daquela forma. Por que estava ali? Por que estavam lutando? Por que havia tanto sangue impregnado nas suas vestes? A voz da Chinoike há muito já havia se perdido em meio aos gritos de morte. Sem perceber, suas íris negras tingiam-se de vermelho enquanto as escleras tornavam-se negras; era o Ketsuryugan. O corpo de Amatsu fervia, o seu sangue corria mais rápido nas suas veias, correspondendo a cada movimento dado. Conforme as lágrimas vermelhas escorriam pelas bochechas da Chinoike, o sangue no chão, gota por gota, começava a flutuar.


Amatsu: PAREM!


Poças de sangue fortemente vermelho se formaram no ar por todo e recinto, fazendo com que os membros, tanto do clã Hyuuga, quando dos Chinoike e Uchiha, parassem no mesmo instante de combater. Todos os Dojutsu focaram-se no sangue que os rodeava, para enfim perceberem a quantidade descomunal de corpos sem vida no chão, apertando suas armas com força para aguentar aquela visão. Todos pareciam assustados perante aquela demonstração de habilidade por parte da Princesa Chinoike. Os portadores do Ketsuryugan logo soltaram as suas armas, esperando pelo comendo deu seu líder.


Ashitsu: Amatsu... — murmurou o homem, voltando-se para a filha, enfim seguindo para Shigeo, que também não parecia mais disposto a continuar aquele combate. — Já chega, vamos recuar! Já tivemos quedas o suficiente em ambos os lados — exclamou para os homens do clã Chinoike e Uchiha, entretanto, os Hyuuga não agiram da mesma forma, se preparando para revidar.

Shigeo: Parem! — elevou a mão, fazendo com que todos os Hyuuga ali também parassem, mesmo que contra sua vontade. — Vão embora antes que entremos em uma luta até a morte.


Amatsu é tocada no ombro e, no mesmo momento, seu Ketsuryugan desativa, retornando às íris ao conhecido negro. O sangue flutuando volta ao chão, tingindo-o novamente de vermelho enquanto os clãs Uchiha e Chinoike finalmente deixam o território inimigo.


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ATO IV
Vale das Folhas Verdes, Território do Clã Akimichi — 47 anos atrás

Chinoike Amatsu estava novamente no seu segundo lugar favorito em todo o mundo. A morena era rodeada por flores de diversas cores, enquanto seus pés refrescavam-se no pequeno riacho que atravessava a campina colorida. A cascata continuava intacta, com seu véu esbranquiçado despejando o líquido da vida que fluía por todo o terreno. A Princesa Chinoike gostaria de estar em paz como a natureza, entretanto, por mais que tentasse, mas memórias dos acontecimentos nos últimos dias sempre voltavam à sua mente. Ainda não conseguia esquecer o embate entre os clãs detentores de Dojutsu e todas as mortes dos seus membros, e tal corrido havia se tornado notícia até mesmo entre os clãs que não se envolviam diretamente nos embates por território.

As mãos de Amatsu trabalhavam rapidamente enquanto colhia flores e as entrelaçavam. Desde muito pequena, tomara a confecção de coroas de flores como um hobbie relaxante, que a acalmava e afastava os pensamentos ruins, mas apesar de adorar o que fazia naquele momento, não estava funcionando. A imagem de Rikyu falecido ainda não deixava a sua mente; a ficha apenas caíra quando, um dia antes, os três clãs uniram-se para o funeral de todos os envolvidos assassinados. Ainda lembrava do rapaz dizendo-lhe que a única solução para os Hyuuga era o extermínio. Não concordava. Se quisesse erguer Konohagakure, uma vila onde todos os clãs viviam em harmonia, teria de prezar por todos, não importando o quão divergente em ideias estes pudessem ser.

Quando já estava com a coroa finalizada, sua visão encontrou três pessoas. Dois grandes homens acompanhados de uma pequena garotinha, com o olhar curioso. Amatsu rapidamente deixou o riacho, calçando as sandálias e permanecendo ereta. Quando o trio aproximou-se, a Chinoike fez uma breve reverência, fitando Cho, o líder do clã Akimichi, para então notar que o guarda que o seguia era o mesmo homem que a expulsara da campina no dia em que conhecera Rikyu. Segurou os sentimentos no lutar, acalmando-se.

Contos BhqqYRc
Cho: Me informaram que você tinha algo para falar comigo — falou com voz grave. — O que deseja, princesa dos Chinoike?

Amatsu: Perdoe minha intromissão em seu território. Eu vim para tratar de assuntos importantes — faz uma breve pausa e continua. — Não em nome do meu clã, mas em nome de um bem maior.


Tanto Cho quando a sua filha Choko, a Princesa Akimichi, mostraram interesse em Amatsu; o líder em suas palavras, enquanto a garotinha admirava a beleza da jovem à sua frente. Os olhos negros da Chinoike encontraram os da Akimichi e um belo sorriso surgiu no rosto da mais velha, que dera um passo à frente, estendendo a coroa de flores, entretanto, o guarda interviu.


Cho: Deixe-a — ordenou o líder, assistindo a Chinoike abaixa-se e depositar delicadamente a coroa de flores na cabeça de Chouko, que abriu um grande e sincero sorriso. — E sobre o que esse “bem maior” se trata?

Contos TagZUov
Amatsu novamente elevou-se, tomando uma respiração funda e fitando serenamente Cho. Uma enxurrada de imagens e sentimentos novamente tomou conta dos pensamentos da morena, que procurou acalmar-se. Quando apenas o rosto de Rikyu podia ser visualizado em sua mente, a garota lembrou-se de tudo o que haviam conversado naqueles meses. A expressão no seu rosto se suavizou.


“Obrigada por todo o apoio, Rikyu-kun... mas eu lutarei pelo nosso sonho do meu jeito.”

Amatsu: Eu vim propor um tratado de paz entre os clãs.

O clã Akimichi fora apenas o primeiro dos vários clãs que Chinoike Amatsu, a Princesa Chinoike, visitara após a morte de Hyuuga Rikyu. Nos dias seguintes, a shinobi continuou contatando os líderes dos clãs do Vale das Folhas Verdes, determinada a iniciar uma nova vila onde o sangue dos seus semelhantes não fosse mais derramado em vão. O seu pai, líder do clã Chinoike, fora o primeiro a apoiá-la, seguido do seu aliado, o clã Uchiha, que também buscava a paz. Aos poucos os demais clãs daquela área decidiram apostar as suas esperanças nas propostas que Amatsu tanto lutava para erguer: uma vida mais fácil e em paz. Após tal acordo, as relações entre os clãs passaram a se estreitar, gerando confiança mútua.

Os clãs Chinoike, Uchiha, Akimichi, Yamanaka e Nara, unidos, começaram os planejamentos para transformar o território neutro, onde nenhum clã ainda vivia, na tão vislumbrada Konohagakure, inspirada em outras vilas que já se consagravam em lugares distantes, como Kirigakure, no País da Água, Kumogakure, no País do Relâmpago e Iwagakure, no País da Terra. Com Amatsu assumindo à frente do projeto, junto aos líderes de cada clã, criaram a base para Konoha ser fundada e se mudaram para tal região, começando a prosperar lá. Não tardou para que também outros clãs ou grupos de civis que apenas cultivavam se juntassem à criação da vila, criando uma perfeita política com segurança e confiança entre si.

Porém, por mais que tudo estivesse caminhando com perfeição para a realização de seu sonho, algo incomodava Amatsu bem em seu interior: o clã Hyuuga se afastou dos demais clãs e sequer correspondia às tentativas de união que a princesa solicitava. Não desejava guardar rancor e isolá-los, afinal, pessoas tão amáveis como Rikyu poderiam também sonhar com a paz de Konohagakure. Determinada, Amatsu não deixaria que Rikyu estivesse certo em dizer que a única solução para os Hyuugas era a extinção.

Ao longo de 3 anos, enquanto Konohagakure era aprimorada para melhor conforto da grande população que ali se reunia, Amatsu não cessou suas tentativas pacíficas de fazer um acordo com Hyuuga Shigeo. Sequer pedia-o algo, apenas desejava que pudessem viver em harmonia sem que os conflitos do passado os assombrassem. Infelizmente, nada parecia quebrar o orgulho do líder.

Foi quando que, cansada de tentativas burocráticas, Amatsu decidiu usar apenas a sinceridade. Conseguiu se reunir com Hyuuga Shigeo à sós, assentando-se à sua frente sobre um tapete no salão principal da mansão dos Hyuuga.


Shigeo: Se veio me encher com mais tratados de união imbecis, está perdendo seu tempo — o homem logo respondeu, cerrando os olhos perolados. — Jamais submeterei meu clã a trabalhar como escravos para outros.

Amatsu: Não se engane Shigeo-dono, não vim para isso. Em momento algum eu peço para que sirvam ao meu clã ou aos demais. Eu peço-lhe por paz.

Shigeo: Já não estamos em paz? Há 3 anos não temos mais conflitos.

Amatsu: Chama isso de paz? Esse sentimento de ódio enraizado em nosso passado que impede de vivermos em prol de um futuro melhor? Podemos aparentar estar em paz, mas nosso interior não está — soou extremamente sábia, mais do que para sua idade. — Foi por este sentimento que brigamos por gerações. Perdemos amigos, familiares... amores... e não ganhamos nada além de mais ódio — suas palavras não só a entristeceram mas como também ao próprio homem.


Um breve silêncio se fez antes de Amatsu continuar:


Amatsu: Não podemos alterar o que já fizemos... mas podemos nos perdoar por isso — as palavras atingiram o Hyuuga profundamente. — Eu sei que você sofre tanto quanto eu desde aquele dia.


Mesmo não citando estava claro sobre quem falavam. O entristecimento e arrependimento caíam sobre a face do homem, este que levou as mãos até as têmporas para cobrir os olhos. Provavelmente não queria a deixar vê-lo chorar.


Amatsu: Sei que estamos prontos para virar a página e construir algo melhor do que construíamos até então. Vocês são indispensáveis para um futuro melhor em Konohagakure — calmamente estendeu a sua mão para o homem, mantendo uma feição harmônica. — O que me diz?

Shigeo: Temos um acordo então — respondeu Shigeo, retirando a mão da face e apertando a da garota sem se importar com as poucas lágrimas que escorriam.


Finalmente o clã relutante cedeu à criação de Konohagakure, se mudando para lá à tempo da inauguração da vila. A última reunião feita entre todos os líderes de clãs decidiria como liderariam politicamente a vila. E, com unanimidade, todos votaram para um único representante que conseguisse atender da melhor forma as necessidades de cada clã: Chinoike Amatsu foi eleita a 1° Hokage, utilizando como base líderes únicos das outras vilas — Mizukage, Raikage e Tsuchikage.

Neste mesmo ano houve a cerimônia de eleição da 1° Hokage tal qual uma grande homenagem a esta, esculpindo sua face na grande montanha em frente à toda vila. Líderes e membros de todos os clãs ali presentes juntos aos civis aplaudiam à morena no topo do escritório político. Tanto a velha geração como a nova estava ali; dentre ela uma pequena criança de cabelos loiros e olhos azuis acenava com admiração nos ombros de seu pai. Yamanaka Hiroshi, com seus 3 anos de idade, presenciou a criação de Konohagakure.


-x-x-x-


FINAL
Shinhõgakure — Atualidade

O homem de expressão séria fitava atentamente os três rostos esculpidos na imponente montanha. O primeiro era de Chinoike Amatsu, a bela princesa Chinoike que ultrapassou todas as desavenças e fundou a tão amada Konohagakure; o segundo era Senju Arashi, o prodígio escolhido pela própria Shodai para seguir em frente com o seu sonho; e o terceiro, bem, era ele mesmo. Yamanaka Ryuuji, forçado a se tornar Hokage após a queda da vila. Mesmo que não se achasse tão apto quando Arashi ou Misaki para o cargo, ainda o fazia com todo o seu amor e vontade. Apertou o cabo da Kusanagi, espada que um dia pertencera à Amatsu, abrindo um sorriso para a montanha.


Ryuuji: Que a sua vontade do fogo nunca se extinga, Amatsu-sama.

F I M
Akimichi Karina
Akimichi Karina
Chunnin


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Contos Empty Hiden: Time Hiroshi - Parte 1

Mensagem por Akimichi Karina Seg maio 07, 2018 12:22 am

HIDEN - T I M E     H I R O S H I

Como uma Família
Contos YAzZsHt

ATO I
Konohagakure — 22 anos atrás

Vinte  e dois anos haviam se passado desde que Chinoike Amatsu havia acabado de vez com as desavenças entre os diferentes clãs e criado uma vila onde todos trabalhavam juntos. Todo o esforço da Shodai Hokage valera a pena, podendo ser visto nas diferentes gerações que já haviam passado por aquele lugar. O mundo ainda podia ser cruel, mas Konohagakure ainda lutava pela paz constantemente.


Konohagakure, Academia — 22 anos atrás

Jounins caminhavam por entre os corredores da Academia Ninja buscando acharem as suas salas de destino, utilizando de placas para se localizarem melhor. Hoje constava o dia em que uma nova geração de alunos se formaria em um time constituído por 3 deles e um instrutor, este de nível Jounin para melhor transmissão de seus ensinamentos. A euforia era grande na escolha dos colegas e na apresentação para com o Sensei responsável por estes, fazendo deste dia um dos mais importantes de suas vidas.

Uma dupla de Jounins caminhava junto a bastante tempo por entre os corredores quase como perdidos. Um destes ria bastante com a situação, possuindo cabelos loiros bem destacados. Em contrapartida o outro de cabelos grisalhos fechava a cara pela demora da qual localizavam suas respectivas salas. Os futuros Senseis, Yamanaka Hiroshi e Iwata, trocavam provocações entre si em uma grande e amistosa rivalidade. Já estavam naquela disputa moral a um bom tempo, chegando ao ponto que apenas Hiroshi falava.

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Hiroshi: Não esqueça que as Provas Chunnin acontecem daqui à alguns meses. Tente pelo menos conseguir chegar nelas para meu time ter oponentes para vencerem! — o tom provocativo era tão próximo ao brincalhão que acabava por não soar como uma ofensa e sim como um desafio. A face confiante do loiro competia com os olhos sérios do grisalho. — É bom dar um mínimo de trabalho para meus alunos ou nem terá graça!


Depois de tanto provocar finalmente conseguiu arrancar um sorriso torto da carranca de Iwata. Não era por falta de humor que não sorria mas sim por gostar de ver como o Yamanaka tentava de inúmeras formas fazê-lo sorrir.
Próximos a uma bifurcação nos corredores teriam de se separar para seguirem cada um até a sala de destino. Hiroshi tocou-lhe no ombro e sua autêntica feição era contagiante.


Hiroshi: Boa sorte meu caro!


O loiro seguiu calmamente pelo corredor. Apesar de seguro em relação ao encontro que teria com seus pupilos, não conseguia evitar de imaginar como seriam os gennins que tutoraria. Seria uma tarefa difícil, mas faria o possível. Quando alcançou o seu destino, deparou-se com uma porta entreaberta.

Colocou a cabeça para dentro, segurando-se no batente da porta, seus olhos vasculhando toda a extensão da sala, do quadro até as mesas, notando a presença do primeiro garoto, sentado de braços cruzados. O garoto de cabelos pretos como piche elevou a cabeça anteriormente abaixada, revelando os marcantes e profundos olhos azul elétrico; estes eram analíticos e inquiridores que, somados à expressão séria, pareciam julgar cada movimento dado por Hiroshi. Apenas vendo-o já sabia que não seria fácil conquistar o seu respeito.

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O olhar do jounin então fora de encontro para o segundo aluno: uma garota de costas, apoiada na janela, fitava atentamente o lado de fora. Parecia distraída, mas assim que notou a presença de Hiroshi virou-se rapidamente, olhando-o nos olhos. Seus cabelos tão negros quanto os de seu colega, presos em um rabo de cavalo, deram espaço para as íris esmeraldas. Eram curiosos e atentos, como se tentasse descobrir e decifrar tudo a respeito do loiro. Ainda assim tinha um sorriso bonito e a feição dócil em sua face.

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O Yamanaka então procurou pelo terceiro garoto, não encontrando mais ninguém naquela sala além dos dois primeiros. Sua boca abriu-se para perguntar sobre o outro no mesmo momento em que abria a porta, até ser recebido de surpresa pela forte pancada. Algo parecendo estar sobre a porta, atingiu-o de cima com tudo, derrubando-o no chão, caindo ambos. A risada divertida tomou conta da sala enquanto Hiroshi recuperava-se facilmente, permanecendo de joelhos enquanto tomava consciência da criança rolando no chão de tanto rir. Os cabelos eram em um tom entre o rosa e o vermelho, tão chamativos quanto a sua risada e suas roupas eram simples e leves, como se preferisse passar o dia relaxando em vez de trabalhar como um ninja. Mas o que mais lhe chamavam a atenção eram os seus olhos: pareciam mudar constantemente de cor; uma hora eram vermelhos como seus cabelos, na outra, mudava para um notável tom de ouro, como senão conseguisse decidir-se.

Contos 3pUnzS3
Misaki: Tonto! — exclamou a morena, aproximando-se com uma expressão irritada, desferindo um forte soco na cabeça de Arashi, que choramingou enquanto massageava o local do golpe. — Já está manchando nossa imagem! Não basta ter enchido a sala de galinhas no dia da formatura... — a garota suspirou, enfim voltando-se para o mais velho. — Você está bem, sensei?

Arashi: Mas foi só uma brincadeira — murmurou o rosado, ainda massageando a cabeça, mas deixando um sorriso escapar. Misaki revira os olhos com a resposta, porém um breve sorriso aparece em seu rosto.


Hiroshi novamente passa os olhos pelos três, e uma breve análise. Uma frase formou-se em sua cabeça, não contendo o sorriso entusiasmado graças aos seus pupilos.
“Terei um grande trabalho pela frente...”


Konohagakure, Campo de Treinamento — 22 anos atrás

O quarteto — Hiroshi e seus pupilos — teve sorte de encontrar o campo de treinamento vazio naquela manhã. Após o encontro na sala de aula, tiraram algumas horas para se conhecerem e se apresentarem. Satisfeito com a socialização, rumaram para o campo de treinamento, onde poderiam mostrar as suas habilidades. O jounin pôde notar que Arashi parecia um tanto inquieto, enquanto Ryuuji estava mais confiante do que o Yamanaka achava normal.

O campo de treinamento era formado por um grande gramado com algumas poucas árvores e um pequeno lago. O sol já estava bastante alto no céu, informando-os que já estavam próximos do meio-dia. Seria um ótimo treino antes de pararem para o almoço. Arashi e Ryuuji já estavam de frente um para o outro, encarando-se seriamente, enquanto Hiroshi e Misaki observavam de longe, atentos à luta que ocorreria.


Hiroshi: As regras são as seguintes: apenas Taijutsu e armas. Nada de Ninjutsu ou Genjutsu — informou o loiro. — Será declarado vencedor aquele que conseguir imobilizar — enfatizou o “imobilizar” — o adversário. Entendido? Podem começar!


No instante em que Hiroshi deu o grito de início do combate, o movimento de avanço feito por Arashi foi de imediato. O rosado saltou para frente, se impulsionando com chakra e fechando o punho de sua destra para um soco direto na face. Seu olhar confiante com seu movimento era rebatido com um feroz e frio do colega que não se surpreendeu com o golpe direto.

Ryuuji moveu seu corpo para lateral, onde deixou o golpe passar ao lado de sua cabeça, o vento balançando seus cabelos. Foi um desvio perfeito e não parecia abrir brechas como era pretendido por Arashi. Antes que seu braço retornasse, já lançou o segundo golpe, levantando a perna dobrada para atingir uma forte joelhada no estômago do outro. A reação do moreno foi juntar as duas mãos espalmadas, parando a joelhada e empurrando-a de volta com força.

O desequilíbrio que causou em Arashi foi o início de sua sequência bastante precisa. Utilizou de uma perna para dar uma rasteira no rosado e o derrubar ao chão em sua frente. Com sua mão sacou uma kunai e girou-a no dedo antes de ir com tudo para cima do outro. Arashi, caído ao chão, rolou para o lado a tempo de esquivar e se ergueu rapidamente sem tirar os olhos do colega. Ali estava Ryuuji, com a kunai fincada no chão, levantando lentamente a cabeça para que seus olhos azuis profundos e ferozes intimidassem o rosado.

Engolindo seco, o Senju também sacou uma arma branca para lutar de igual para igual e acompanhou-o se levantar.

Arashi respirou fundo antes de avançar enquanto notava a calma com a qual Ryuuji girava sua kunai nos dedos, parecendo hábil o bastante com esta para se garantir no combate. Avançou mais uma vez e seu golpe foi defendido pelo adversário, tendo um choque por entre as armas. O som do metal se chocando ressoava repetidas vezes conforme Arashi tentava golpear Ryuuji e sempre era defendido com exímia precisão. Seus passos aceleravam e investiam, enquanto que Ryuuji recuava sem se importar em deixar que o Senju estivesse colocando-o sobre pressão.

Finalmente chegou um determinado momento onde aquilo cessou. Ryuuji se defendeu mais uma vez com a kunai e movimentou rápido sua mão livre para então atingir o cotovelo do rosado com força. Um grito escapou dos lábios do Senju com o golpe e sua mão soltou a kunai por fraqueza. Nessa oportunidade, Ryuuji investiu pela primeira vez na luta: pegou a kunai do adversário com a mão livre e passou outra rasteira em Arashi, derrubando-o no chão mais uma vez.

O rosado mal se recuperou e sentiu um forte peso cair sobre seu corpo. Ao abrir os olhos após a queda viu Ryuuji em cima de si com as duas kunais próximas ao seu pescoço formando um X.

Hiroshi observava cada movimento com extrema curiosidade, analisando os dois garotos que lutavam. Focou-se primeiramente em Arashi. Seu estilo de luta era bastante “forte” e impulsivo, entretanto, graças a isso, deixava inúmeras brechas que podiam ser usadas contra si; o que Ryuuji fizera com perfeição. Senju Arashi era habilidoso, assim como a sua linhagem, mas ainda necessitava ser polido e levar o seu novo trabalho mais a sério. Os olhos azuis do Yamanaka então caíram até a morena aos seus lados, que também parecia analisar a luta sem cansar; seus olhos mal piscavam. Apenas olhando-a, Hiroshi não conseguia adivinhar que tipo de combatente Misaki era, por isso ansiava para vê-la em ação.


Hiroshi: Muito bem, o vencedor é Ryuuji — anunciou, observando os dois meninos se afastarem. Notou um olhar rancoroso na expressão de Arashi enquanto observava as costas do seu colega, que se afastava como se nada tivesse acontecido. — Agora... Arashi e Misaki.

Arashi: De novo?! — exclamou o rosado, descontente por ter que lutar novamente.

Hiroshi: Sim. Ryuuji venceu, então vai poder descansar antes do próximo combate — ignorou a bufada do Senju, voltando-se para Misaki. A garota assumiu o lugar antes ocupado por Ryuuji com certo desconforto. Girava o braço para alongar o ombro até que fosse dado o comando do combate, parecendo bastante inquieta.

Misaki: Se eu só pudesse usar o Kagemane seria tudo tão mais fácil... — reclamou com múrmuros baixos, trocando olhares para o sensei e seu colega oponente. — Tá preparado para me ver te descer a porrada?

Arashi: Não conte com essa vitória!

Misaki: É o que vamos ver.

Hiroshi: Começar!


Dado o comando para que lutassem, imediatamente Arashi saltou contra a oponente fechando seu punho direito. Era a mesma situação anterior e bastante esperada pela morena. A Nara tencionava seu corpo preparada para o golpe quando a surpresa ocorreu.

O soco que antes seria dado foi trocado no último instante quando Arashi pousou em frente à garota. Girou seu corpo com o movimento e elevou a perna para atingi-la lateralmente com um chute. A reação foi colocar os dois braços cruzados para tentar amortecer o golpe, conseguindo assim resistir à força do rosado. Exclamou enraivecida com o movimento inesperado e tentou retornar à calma o mais rápido possível.

Arashi retornou a perna e agora sim dirigiu o soco contra a morena. O padrão finalmente havia sido retomado e Misaki já sabia como agir. Abaixou à tempo enquanto virava o corpo para o soco passar por cima de sua cabeça, ficando abaixada e com as costas viradas para o rosado. Usou de seu cotovelo para o atingir no abdômen e afastar o garoto, retirando-lhe o ar com o golpe.

O Senju recuou alguns passos com a dor e a Nara aproveitou tal momento. Se levantou e avançou para chutá-lo diretamente no peito.

O que parecia ser um movimento garantido se tornou algo horrível para Misaki. Arashi não só se recuperou a tempo do golpe para segurar sua perna mas também a jogou para cima, tirando o equilíbrio e derrubando-a. A garota colocou as mãos para trás e evitou se chocar com as costas no chão.

Rapidamente se recordou do que analisou do combate anterior e reagiu ao que possivelmente ocorreria, erguendo as pernas para cima e conseguindo segurar Arashi que se jogou em cima de si. Os pés o seguravam pelo peito e o atirou por cima, fazendo-o cair e bater as costas no chão. Com as mãos já antes apoiadas no solo se impulsionou para trás e caiu sobre o corpo de Arashi, tendo seu peso todo sobre a barriga do rosado. Sacou uma kunai enquanto este ainda estava atordoado e a aproximou de seu pescoço.


Misaki: Acabou pra você, pestinha — anunciou, vitoriosa, com um largo sorriso nos lábios.

Arashi: Droga! — exclamou, socando o chão enquanto a Nara levantava-se.


O Yamanaka estava boquiaberto. Em primeiro lugar, com Arashi que, de certa forma, parecera evoluir de um combate para o outro, mas a maior surpresa fora Misaki. Hiroshi notara que a garota não possuía aptidão para combates diretos, mas o tempo que observara a luta entre Arashi e Ryuuji, Misaki utilizara para analisar todas as brechas de seus companheiros e montar um plano para vencê-lo. Mesmo com toda a pressão do Senju, a Nara conseguira manter-se calma o bastante para manter o seu plano e alcançar a vitória. Se pudesse fortalecer ainda mais a sua mente, Misaki se tornaria uma estrategista assombrosa.


Hiroshi: Os dois foram muito bem — elogiou, acompanhando com o olhar um chateado Arashi, que sentou-se um pouco afastado. — Ryuuji, agora é a sua vez.


O moreno levantou-se, enfim caminhando até o meio do campo e posicionando-se à frente de Misaki. Ambos se encaravam carregando rivalidade nos olhos, parecendo tornar o ar ainda mais hostil do que na primeira luta. Haviam analisado a vitória do outro e sabiam do que eram capazes. Ryuuji moveu a mão para sacar uma kunai antes mesmo do combate iniciar, segurando-a sem girar no dedo.


Misaki: Então já vai vir com tudo pra cima de mim? — seu tom brincalhão misturava ao provocativo, sacando também uma kunai. — Acho que terei de fazer o mesmo.

Ryuuji: Você não é o tipo de oponente que se brinca.


No instante do comando para começar, dado por Hiroshi, já houve o primeiro movimento. Misaki atirou a kunai e acumulou chakra nas solas para correr na direção do colega, o qual já dividia sua atenção por entre as duas investidas paralelas. Moveu a cabeça com precisão para que a arma passasse ao lado de sua cabeça, cortando algumas pontas de seus cabelos e fincando na árvore atrás deste. Sua atenção então se dirigiu unicamente para Misaki, a qual tentava o golpear com uma cotovelada.

Ryuuji utilizou do braço desarmado para segurar o golpe e resistir, investindo então com a mão armada para cortá-la com a kunai.
Aquele típico movimento após uma defesa já havia sido observado anteriormente por Misaki. A garota imediatamente abaixou e apoiou as mãos no chão deixando com que o golpe passasse por cima de si. Mas não era só esse o intuito de abaixar-se. Firmou as mãos e levantou uma perna com força, tendo sua mira voltada exclusivamente para um ponto: as partes íntimas de Ryuuji.

Os olhos até antes frios do garoto foram arregalados e seu coração acelerou como nunca antes. Soltou a kunai da mão no susto e colocou-a na frente da área enquanto saltava para trás, conseguindo desviar do chute.


Arashi: ISSO NÃO SE FAZ, MISAKI!!! GOLPES BAIXOS DEVIAM SER PROIBIDOS, SENSEI!! — gritou o rosado enquanto colocava as mãos sobre a virilha solidariamente.

Hiroshi: I-Isso foi inesperado... — comentou com certo receio enquanto parecia agonizado com a ideia do golpe.

Misaki: Hihi — brincou ao fazer uma careta, colocando a ponta da língua para fora e se fazendo de ingênua.


Ryuuji nada comentou, mas parecia bastante transtornado com a situação. Respirava fundo algumas vezes para conseguir manter sua calma, a qual tanto o conduzia a vitória; e foi aí que tanto Ryuuji quanto Hiroshi notaram o real intuito daquele golpe: a Nara observou que Ryuuji apenas conseguia se impor caso estivesse concentrado e este recente golpe serviu unicamente para quebrar tal concentração.
Realmente era uma oponente acirrada e perigosa.

Misaki então deu um mortal para trás para se levantar novamente e mal teve tempo de reação para o que viu. Ryuuji saiu de seu modo de contra-ataque e investiu com velocidade contra a garota, quebrando seus padrões para conseguir a vitória. Acertou-a com uma forte e direta joelhada no estômago. O golpe não só pegou a garota de surpresa mas também a fez perder toda a calma que antes estava, desnorteando-a.

No instante em que inclinou seu corpo instintivamente por conta da dor acabou por abrir a brecha final. Ryuuji envolveu-a pelos ombros com seu braço e se moveu para trás da garota, tendo o braço em torno do pescoço dela e apertando.


Ryuuji: Isso acaba aqui — a morena ainda tentou se debater mas foi em vão. Por fim, bateu a palma duas vezes no braço do colega em sinal de desistência, sendo liberta.

Misaki: I-isso é jeito de tratar uma dama...? — perguntou a morena, ofegante.

Ryuuji: Comece a agir como uma. — respondeu Ryuuji, já dando as costas para o seu oponente.


Hiroshi parecia ainda mais perdido do que anteriormente, como se não conseguisse acreditar no que seus olhos viam. Os boatos de que ficara com os dois melhores Genins de sua geração tornavam-se verdade bem a sua frente; eram dois monstros. Sem dúvida alguma, o mais habilidoso entre o três era Ryuuji, o último sobrevivente e um habilidoso clã de fora do País do Fogo, conhecido pela sua tremenda força. Tamanha ganância os levara à queda, mas Hiroshi agora estava ali, contemplando a sua força com os próprios olhos. Ryuuji, mesmo um recém formado Genin, era um grande exemplo de shinobi, frio, calculista e sem qualquer emoção, adaptável o bastante para adaptar-se a qualquer oponente. Era um verdadeiro gênio.


Hiroshi: Parabéns, vocês foram ótim-

Emiko: Tou-chaaaaan! — Antes que Hiroshi pudesse terminar a frase, a voz de uma garotinha cortou o ar. O Yamanaka virou-se, deparando-se com uma menina de três anos, loira como ele e de olhos verdes e animados. Logo atrás vinha a mais bela das mulheres, na visão de Hiroshi, sendo uma versão mais velha da garotinha que agora saltava em seus braços.

Contos C22vJnR
Hiroshi: Olha a minha princesa! — exclamou o Yamanaka, beijando o rosto da filha. — O que estão fazendo aqui?

Emiko: Kaa-chan fez almoço! — respondeu a menina, apontando para a mãe, que trazia vários potes enrolados em uma grande toalha com o brasão do clã Yamanaka.


Alguns minutos depois, a toalha já estava estendida sobre a grama em baixo de uma das largas árvores do campo de treinamento. Os seis estavam sentados em círculo, desfrutando de um ótimo almoço preparado pela esposa de Hiroshi, Aya, e jogando conversa fora, aproveitando para conhecer ainda mais dos seus pupilos. Para surpresa do Jounin, até mesmo Ryuuji havia se soltado, deixando a carranca habitual para uma expressão mais serena, mesmo que falasse pouco e parecesse encabulado.

Pareciam uma grande família e, sinceramente, Hiroshi preferia assim.


-x-x-x-


ATO II
Floresta próxima à Yumegakure — 22 anos atrás

A kunai lançada fora habilmente desviada pelo vulto em meio às sombras das árvores, desaparecendo atrás delas. Era tarde da noite e o ar da floresta parecia congelado, apesar do ar parado. Os animais e o vento pareciam ter pardo qualquer movimentação, como se estivesse mais interessados no que ocorreria ali, tamanho o silêncio à volta do trio. O vulto revelou-se Nara Misaki, com seus cabelos negros que pareciam fundir-se às sombras, juntou-se aos seus companheiros.


Bandido: Apareçam! Vamos acabar com isso de uma vez, crianças! — A voz do homem era a única coisa que ressoava naquela floresta, deixando os garotos ainda mais tensos.


O time formado por Ryuuji, Arashi e Misaki escondia-se em cima de um dos galhos mais altos. A copa das árvores eram tão próximas que pareciam abraçar-se umas às outras, cobrindo todo o solo com as suas sombras profundas, garantindo assim a perfeita camuflagem para aqueles garotos. A tensão estava evidente nas expressões de Misaki e Arashi, este último que tinha os olhos dourados arregalados e roía as cutículas, preocupado; já Ryuuji mantinha o semblante calmo, mas Misaki sabia que até mesmo ele travava uma luta interna para manter-se daquela forma. Os garotos não tinham os olhos apenas naquele homem, mas nos seus outros companheiros procurando-os pela floresta.


Ryuuji: Temos cinco inimigos — informou Ryuuji, voltando-se para os outros dois.

Arashi: O-o que vamos fazer? — murmurou o rosado, parecendo ainda mais assustado agora que sabiam quantos oponentes tinham em sua cola.

Misaki: Manter a calma — respondeu a garota, apesar de não parecer confiante. Sua testa permanecia franzida o tempo todo, procurando na escuridão a solução para o seu problema.

Ryuuji: Temos que atacar, antes que eles nos encontrem — disse Ryuuji, com tamanha calma que chegava a irritar os outros dois.

Misaki: Não podemos! Nossas ordens são para evitar combate, temos que fugir ou...

Ryuuji: Ou o quê? Se continuarmos assim seremos pegos!

Misaki: Eu... eu vou encontrar uma solução... — a garota parecia murchar, como se não ter um plano fosse a pior coisa que lhe podia ocorrer na vida.


Arashi permaneceu entre os dois, ainda nervoso, observando a discussão. Estava tão aterrorizado que nem mesmo conseguia pensar com clareza. Sua mente voou até o início daquela missão, ainda quando estavam com Hiroshi, este lhes informando sobre a sua primeira missão de Rank C desde que haviam se graduado.
A imagem ainda era fresca e conseguia se recordar com perfeição das palavras usadas por Hiroshi enquanto saiam da vila:


Hiroshi: Parece que vocês venceram — suspirou, notando os olhares animados dos três garotos. Até mesmo Ryuuji parecia radiante. — É bom que não estejam esperando algo grandioso. Aqui vai: nós vamos ir até Yumegakure, nos arredores de Konoha. Parece que alguns mercadores têm desaparecido. Nosso dever é investigar o que está havendo e voltar para cá o mais rápido possível. Apenas investigar — frisou as últimas palavras, se certificando de que seus três pupilos entendessem.


Entretanto, não foi tão simples quando se aprofundaram no mistério daquela missão. Descobriram que os mercadores desaparecidos na verdade estavam sendo feitos de refém por um grupo de ex-shinobis de Konohagakure, que lhes exigia que dessem todos os suprimentos pra que continuassem vivos. O quarteto encontrava-se escondido entre alguns arbustos ao entardecer, observando um grande prédio que estava sendo guardado por alguns dos bandidos. A partir daquele momento, a prioridade da missão havia mudado e o seu Rank aumentado para pelo menos B.


Hiroshi: Não podemos deixar que os civis sejam mortos por eles, portanto, eu mesmo vou salvá-los. Entrarei lá sozinho — disse o loiro, já interrompendo antes que qualquer um deles protestasse. — Eu não vou tolerar, em hipótese alguma, que vocês interfiram de qualquer maneira. Vocês são apenas genins e não devem combater.

Arashi: Mas sensei! — adiantou-se o rosado.

Hiroshi: Sem mas. Eu sei o que estou fazendo. Apenas façam o que eu mando — repreendeu o Yamanaka, severo. Não podia deixar que os seus alunos se machucassem de qualquer forma. — Vocês vão apenas distrair os guardas e leva-los para longe daqui. Após isso, se escondam. Se não nos encontrarmos até o amanhecer, fujam para Konohagakure. Nem mesmo pensem em voltar aqui, entendidos?

Misaki: Mas sensei, você-

Hiroshi: Entendidos? — interrompeu o loiro, recebendo um aceno de cabeça dos três, que fizeram como o combinado.


Todo o ocorrido levara-os ali. Havia conseguido distrair os guardas com êxito e os levado para dentro da floresta, entretanto, acabaram sendo encurralados pelo maior número de inimigos, acabando naquela situação sufocante. Como se já não bastasse estarem assim, ainda tinham de lidar com a falta de notícias de Hiroshi, que havia adentrado o armazém e agora enfrentava os raptores. Arashi queria poder reverter aquela situação, mas não tinha nada que pudesse fazer.

Em meio aos devaneios preocupantes, Arashi nem mesmo notou que Arashi e Misaki já haviam arquitetado um plano. Retornou à realidade buscando entender rapidamente o que fariam.


Ryuuji: Me dê cobertura. — pediu o moreno, fitando Misaki, que apenas assentiu, parecendo mais calma.


O garoto não hesitou em deixar o galho, sendo seguido rapidamente pela Nara, que saltou diretamente para o homem. A garota sacou uma kunai, lançando-a com precisão, mesmo com tão pouca luz, na direção do seu alvo. Entretanto aquilo era apenas uma distração. Ryuuji logo apareceu ao seu lado, pronto para combate-lo.

O bandido rebateu a kunai com sua própria, voltando-se para Ryuuji. Ambos com armas em mãos, trocavam golpes habilmente, mas estava óbvio que Ryuuji estava em desvantagem. Ambos trocavam golpes avidamente, o som dos metais se chocando enchendo a floresta em uma sinfonia perigosa. Quando o homem finalmente encontrou uma brecha e se preparava para dar o golpe final em Ryuuji, este paralisou.


Bandido: O-o quê?! — exclamou, não entendendo o que se passava.


Quando conseguiu fitar Misaki, notou que as sombras entre os dois pareciam mais escuras que o normal, esticando-se anormalmente e ligando-os. Misaki sorria confiante, realizando o selo de mão característico do clã Nara. O Kagemane no Jutsu estava completo, ligando os movimentos de Misaki aos do bandido e o prendendo em um engenhoso ninjutsu. Aproveitando o momento, Ryuuji estalou os dedos, aproximando-se do homem e agora enchendo o ar com os sons dos vários socos que dava diretamente no tronco do inimigo que não podia defender-se.

Quando acreditava que o homem estava próximo de desmaiar, Ryuuji sentiu um forte golpe ao lado da cabeça, desferido pelo homem da sua frente. Totalmente inesperado, fora jogado para o lado, caindo no chão sem entender o que se passava. O seu alvo estava solto e, levando os olhos azul elétrico até Misaki, notava-a abatida, no chãos, aos pés de outro bandido. Pela primeira vez naquela missão, Ryuuji deixou todo o terror aparecer em seu rosto, ofegando assustado com a imagem de sua companheira desacordada.

Arashi observava tudo aquilo de cima da árvore, aterrorizado. Seus braços e pernas tremiam freneticamente e mesmo que tentasse, não conseguia mexer-se de forma alguma. Precisava ajudar os seus amigos antes que algo pior acontecesse. Os olhos dourados acompanharam quando o homem que Ryuuji enfrentava aproximou-se do garoto, deferindo-lhe um forte chuta na barriga e fazendo-o urrar de dor.


Bandido: Onde está o outro?! Responda! — chutou-o mais uma vez.

Bandido: Ei, vai com calma, ainda podemos usá-los de alguma forma — disse, baixando os olhos para a garota desacordada aos seus pés. — É, podemos sim.


O medo de Arashi crescia cada vez mais, não conseguindo desviar o olhar enquanto via Ryuuji receber ainda mais socos e chutes, não tendo forças para se defender. O que estava fazendo, afinal? Eram um time, precisavam estar juntos. Tinha de salva-los de alguma forma. Quando notou o homem próximo de Misaki tocar a perna da garota, Arashi não aguentou. Levou a mão até a boca, mordendo-a com força antes de jogar-se por cima do homem abaixado, cravando a kunai em suas costas com tudo.

O rosado não conteve o grito enraivecido que escapou dos seus lábios, apertando ainda mais a kunai contra as costas do inimigo, deixando-o agonizando de dor no chão. O ninja que espancava Ryuuji virou-se rapidamente, sacando uma kunai, fitando o rosado assustado.


Bandido: O quê?! Você! Eu vou acabar com você, moleque! — gritou, avançando contra Arashi.


Arashi logo levantou-se, pegando outra kunai e a envolvendo com chakra, desferindo cortes no ar que lançavam lâminas velozes contra o seu oponente, entretanto, este era habilidoso o bastante para fazer o mesmo, cortando as lâminas com a própria arma enquanto avançava contra o garoto. Mais golpes eram desferidos e a floresta voltava a ser preenchida com o som dos golpes entre Arashi e o homem. Os olhos dourados estavam vidrados em seu alvo, a grama acinzentada sendo colorida pelo vermelho do sangue de Arashi que escorria da sua mão e do homem agonizando no chão, deixando uma poça carmesim.

O Senju estava completamente enraivecido e, cada vez que um dos seus amigos entrava em seu campo de visão, sentia-se ainda mais determinado em acabar com aquilo e protege-los. Ryuuji permanecia no chão, sentindo fortes dores em seu corpo e o sangue escorrer da sua boca. Voltou os olhos para frente, não acreditando no que via. Era Arashi ali, enfrentando o bandido corajosamente, tentando defende-lo. Uma sensação estranha tomou o seu corpo ao vê-lo daquela forma e tinha raiva de si mesmo por não conseguir fazer nada depois de tantos golpes.
Porém, em um momento de descuido, Arashi foi atingido por um chute na barriga, sendo lançado para trás, ficando sem ar. Sentia as suas pernas e braços fraquejarem e o medo voltar a tomar conta do seu corpo.

E tudo piorou quando mais um dos homens saiu do meio dos arbustos, fitando tudo surpreso e avançando contra Arashi. O garoto nem mesmo conseguia seguir o que acontecia ali, apenas sentia as dores dos golpes desferidos principalmente em seu tronco e na cabeça. Em vez de metais, era apenas o som de carne sendo amaciada que preenchia a floresta. O garoto recusava-se a cair, apanhando mais cada vez que levantava, até que começou a desfalecer e sua visão tornar-se turva. A última coisa que enxergou fora um colete verde e cabelos dourados que pareciam brilhar naquela noite. Até Arashi mergulhar na escuridão.


Konohagakure, Hospital — 22 anos atrás

Arashi não sabia dizer por quanto tempo ficou assim, mas quando acordou, sabia que estava em um ambiente familiar. Seus olhos precisaram se acostumar com a claridade, até finalmente conseguir focar Hiroshi sentado ao seu lado e Misaki fitando distraidamente a paisagem através da janela. Ao virar para o lado, notou Ryuuji dormindo na cama ao lado, com o tronco enfaixado.


Arashi: Sensei? — chamou o rosado, chamando a atenção do mais velho.

Hiroshi: Ah! Arashi! Finalmente acordou — disse o homem, sorrindo, apesar do rosado conseguir notar a tristeza em seus olhos.

Arashi: O que houve?

Hiroshi: O que houve é que você salvou o dia, rapaz — afirmou o Yamanaka. — Depois que salvei os reféns, corri até a floresta atrás de vocês e os encontrei nos últimos suspiros. Se você não tivesse os enfrentado e segurando por tanto tempo, bem... mas parabéns! Você cresceu muito, estou orgulhoso.


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Última edição por Elesa em Seg maio 07, 2018 12:34 am, editado 2 vez(es)
Akimichi Karina
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Contos Empty Hiden: Time Hiroshi - Parte 2

Mensagem por Akimichi Karina Seg maio 07, 2018 12:23 am

ATO III
Konohagakure, Escritório do Hokage — 18 anos atrás

Recém retornados à vila após uma missão, o Time de Hiroshi recebia palavras de apoio e elogios vindos da Hokage, exibindo um sorriso nos lábios e olhos vermelhos tomados por sincero orgulho.

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Hiroshi: Muito obrigado, Hokage-sama — agradeceu o loiro. — Vamos nos retirar agora.


O cenário era o escritório de Chinoike Amatsu, fundadora e 1ª Hokage do País do Fogo. A sala era espaçosa e aconchegante e por todas as paredes haviam estandartes de todos os clãs e famílias que viviam na vila. Parente os olhos da Chinoike, todos eram iguais em todos os aspectos e mereciam o mesmo respeito, indepedente dos seus poderes ou feitos. Todos faziam parte da grande família de Konohagakure.

Contos D9AXSBF
Arashi: Podemos ir ao Ichiraku ojii-chan, né? — sugeriu o rosado, visualmente animado pelos resultados. — Temos que comemorar!

Contos U2lBzGJ
Misaki: Ah, mas a gente só vai lá...

Hiroshi: Eu acho o Ichiraku um lugar ótimo, já é quase uma tradição — animou-se o mais velho, sorridente.

Misaki: Hm... então tudo bem! — concordo a garota.

Hiroshi: Até logo e boa noite, Hokage-sa-


Antes que o Yamanaka pudesse terminar a frase, fora interrompida pela Hokage, que pediu para que esperasse junto a Ryuuji, desejando lhes contar algo e que o restante continuasse seu caminho. A feição do sensei tornou-se séria no mesmo momento, pedindo para que Arashi e Misaki seguissem até o Ichiraku sem eles. Ryuuji, que até então estava quieto, fitou a Hokage, intrigado com a repentina conversa em particular. Deu alguns passos, perguntando em seguida:

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Ryuuji: Em que posso ser útil, Hokage-sama? — com expressão séria, os olhos azul-elétrico encontraram os escarlates da Hokage, sua feição tornando-se incrédula a cada nova palavra que saía dos lábios da mulher, deixando o adolescente verdadeiramente atônito e surpreso. — I-isso é sério?!


Konohagakure, Ramen Ichiraku — 18 anos atrás

Apesar da noite se aproximar, o clima permanecia quente e abafado, alertando-os de que uma chuva estaria por vir, mesmo que o céu alaranjado estivesse limpo. As ruas da vila estavam calmas e os moradores já começavam a se recolher para as suas casas, mesmo que alguns ainda saíssem para curtir a noite de Konohagakure. O Ichiraku era um dos estabelecimentos que mais se destacava, por normalmente funcionar até tarde, servindo os seus clientes com o melhor ramen produzido em todo o país.

À frente da pequena banca do jovem proprietário, Misaki e Arashi tinham uma discussão acalorada com a pauta "quinta-feira do porco extra". Nara Misaki, apesar de ser considerada o "patinho feio" da sua classe, fazia o possível para permanecer bonita, mesmo que fosse uma kunoichi séria. Usava uma blusa preta apertada sem mangas, que cobria até o seu pescoço, e uma saia verde de cintura alta, com a bandana de Konohagakute amarrada como um cinto. As luvas sem dedos terminavam logo acima dos cotovelos e as longas botas apenas nas coxas, finalizando com a meia-calça de renda. Os cabelos haviam crescido e e caiam como uma cascata negra até abaixo da cintura, realçando e muito os espertos olhos verdes.
Para Arashi, a primeira parte para de se tornar um grande ninja é parecer um grande ninja, mesmo que isso não tivesse lhe ajudado muito. As suas vestimentas espalhafatosas eram compostas por uma blusa de renda sem mangas e uma calça preta, adornados por um colete sobretudo de um vermelho escuro suave com detalhes rosados. As botas também eram negras, assim como as luvas que iam até os cotovelos e ambos tinham placas de metal protetoras os decorando. Os cabelos avermelhados de Arashi também haviam crescido e agora caíam-lhe sobre o ombro como uma única trança.

A dupla aguardava a chegada do restante em um longo diálogo que provia principalmente do rosado, o qual parecia causar tédio por Misaki devido as suas feições. Teuchi, o dono do estabelecimento, assistia com um sorriso no rosto.


Arashi: E então se comprarmos dois rámens de carne de porco teremos o incrível desconto de quinta! Dois pelo preço de um. Não é incrível? — seus olhos brilhavam enquanto apontava para o cartaz de promoções diárias, balançando-o animadamente. — O que acha de pegarmos esse?

Misaki: Acha que eu não sei dos seus esquemas?! — fixou os olhos no rosado e apontou o dedo para sua face. — Só está querendo que eu pague um e você ganhe o outro de graça! — acusou-o com firmeza.

Arashi: Aaah Misaki-chan! Por favorzinho!


Juntou as mãos espalmadas em súplica para a morena, a qual retirou o dedo de frente à sua face.


Misaki: Eu sequer gosto desse sabor! Peça isso ao Hiroshi. — rebateu fria, cruzando os braços. Abaixou a cabeça momentamente enquanto fugia por completo daquele assunto, deixando-se mergulhar em seus pensamentos. Ao erguer a cabeça, direcionou-a para Arashi enquanto levava a mão até o queixo. — Ei. O que acha que a Hokage queria com os dois?

Arashi: Talvez uma missão secreta? — sugeriu sem muita seriedade em sua fala.

Misaki: É o que pensei também. — as dúvidas não perpetuaram por mais tempo. Os passos próximos denunciavam a chegada de mais pessoas, a quais eram exatamente os recém citados. — Ora, falando no demônio. — recebeu-os com um erguer de sobrancelhas e um sorriso provocativo na face.

Hiroshi: Desculpem a demora. Espero não ter os feito esperar muito. — o loiro assumiu a palavra com um curto levantar de mão, acenando e se desculpando. Um sorriso torto surgia em sua face enquanto se sentava ao lado da morena.


O Jounin responsável pelo time adentrou primeiro ao passar pelos característicos anúncios de papel na entrada. Atrás vinha o derradeiro aluno do time: Ryuuji, o único do trio que nunca se importou com a aparência. Se fosse prático, leve e discreto, para o jovem Jounin estava bom. O garoto utilizava por todo o corpo um collant preto e fino, cobertos por uma calça curta escura e um moletom azulado, não muito diferentes das roupas que utilizava quando criança. A bandana permanecia em sua testa, abaixo dos cabelos desgrenhados e arrepiados, confirmando ainda mais o seu descaso com a aparência.

O olhar esmeralda acompanhou o sentar dos homens, mudando suas expressões ao reparar a estranha forma da qual agiam. Ryuuji apresentava uma seriedade maior do que o de costume, somado ao fato de sequer trocar olhares com qualquer um dos companheiros. Assentou-se em silêncio e assim permaneceu, possuindo um olhar vago para frente. Estava evidentemente desconfortável. Hiroshi, em uma situação parecida, tentava conter as mesmas ações com sorrisos falsos e pequenas risadas para descontrair o ambiente.
Teuchi anotou os pedidos quando a brecha foi dada e avisou que logo ficaria pronto, começando então seu trabalho.

Uma breve tensão assumiu o local no silêncio do quarteto. Uma estranha estagnação no ar anunciava que não estavam na mesma sintonia que sempre apresentavam. Quebrando essa tensão, Misaki assumiu a palavra.


Misaki: E então, como foi com a Hokage? Está tudo bem? — sua voz alternava entre um tom instingante e preocupado, passando o olhar por entre o loiro e o moreno.

Hiroshi: Está sim. Ela apenas queria nos dar uma missão especial — alegou de imediato, quase como uma defesa. Ryuuji ainda mantinha o olhar vazio com o queixo apoiado sobre as costas das mãos. — Não podemos contar sobre. É de sigilo total.

Misaki: Entendo. — desviou o olhar, inconformada com a resposta.

Arashi: E... quando vocês vão começá-la?

Hiroshi: Amanhã mesmo.

Arashi: Oh. Parabéns por ela! — um enorme sorriso tomou sua face, apoiando a dupla escolhida pela Hokage. — Espero que não demorem muito.

Hiroshi: O Time Hiroshi ficará suspenso temporariamente enquanto a executamos — no mesmo instante Ryuuji apertou as mãos sem que notasse. — Mas nada impede que vocês também façam outras missões enquanto isso.

Arashi: Podemos nos juntar ao Time Iwata durante esse tempo! — tocou o ombro da Nara ao seu lado conforme tentava animá-la.

Misaki: Sim. Claro. — seus olhos desviavam unicamente para a forma como Ryuuji reagia ao diálogo.


A conversa não fluía e eles sentiam um estranho pesar naquela reunião. Com as tigelas de ramen servidas, o som era cortado unicamente para os estalos dos hashis ao tentarem pegar o macarrão. A ideia da missão especial ainda era bastante controversa e parecia que apenas Arashi estava crendo na história, soltando mais perguntas a respeito e comentários referentes ao tempo com o Time rival. O basta em toda aquela ladainha ocorreu por parte de Ryuuji após terminar sua refeição.


Ryuuji: Essa farsa não vai nos levar a nada Hiroshi-sensei. Quanto mais rápido eles souberem, melhor. — a atenção dos presentes se voltou ao moreno. Com um suspiro pesado, Hiroshi largou a tigela e cruzou os braços impaciente.

Hiroshi: Vá em frente.

Ryuuji: A Amatsu-sama me ofereceu a oportunidade de entrar para os Anbu's. E... — encarando Hiroshi, parecia buscar alguma confirmação de que realmente estava certo disso. Quando o loiro acenou positivamente, continuou. — Eu aceitei. A partir de amanhã sairei do Time Hiroshi e me tornarei um Anbu.


Dessa vez, o silêncio que tomou conta do ambiente foi apenas para que conseguissem se recuperar do abalo que tal notícia causava. As expressões atônitas que assumiam nas faces de Arashi e Misaki eram balanceadas com o remorso que atingia Ryuuji ao terminar de falar. Ainda eram jovens para lidarem com um choque tão forte como esse, sendo a completa separação de tudo o que firmaram ao longo de 4 anos. Hiroshi, o qual apresentava-se neutro, precisou assumir sua imagem como líder para seus alunos.


Hiroshi: Essa oportunidade que Ryuuji recebeu é de extrema importância para seu crescimento como shinobi. Eu fui convocado para lá pois Amatsu sabia que ele ficaria receoso com tal decisão. Como principal avaliador do potencial do meu aluno, saberia melhor do que qualquer um como aconselhá-lo. — a postura firme que assumia ajudava a contornar a situação em qual o time estava, fazendo-os repensar sobre a recente notícia. — Ele já atingiu o máximo de seu potencial enquanto em um time de 3. Não há o que eu possa ensiná-lo efetivamente, diferente dos companheiros novos que ele terá na Anbu. Essa é a melhor decisão que ele poderia tomar.


Calados, cada integrante do time lidava com as informações e sua justificativa da melhor forma que podiam. Repensavam em como seria daqui para frente, tanto no relacionamento entre si quanto na execução das missões. Hiroshi foi o primeiro a retomar sua tigela de ramen para voltar a comer.


Hiroshi: Essa é a nossa última refeição como Time Hiroshi.


O clima permaneceu pesado enquanto o Time Hiroshi tinha oficialmente a sua última refeição. O silêncio apenas era cortado por conversas e piadas falhas vindas de Hiroshi e Arashi, mas todas pareciam extremamente sem graça diante da realidade do dia seguinte. Quando finalmente terminaram, apenas pagaram a sua refeição e despediram-se, rumando para as próprias casas.

Ryuuji para um lado, Misaki para outro e Hiroshi e Arashi seguindo o mesmo caminho.

Mestre e discípulo caminhavam lado a lado pela longa rua vazia e escura. A luz da lua era aos poucos coberta pelas nuvens escuras que tomavam o céu. Konohagakure nunca parecera tão desolada. O Yamanaka caminhava desatento, sem prestar atenção em qualquer coisa, até ouvir o primeiro soluço vindo das suas costas. Voltou o corpo para trás, deparando-se com a imagem de Arashi cabisbaixo, o choro baixo escapando de seus lábios. Hiroshi instantaneamente sentiu o peito apertar por ver o pupilo daquela forma. Cessando seu caminhar, depositou cautelosamente as mãos em seus bolsos aguardando que o rosado estivesse bem. Era um momento de aceitação necessário do qual o loiro não atrapalharia.

Uma voz chorosa emanou do rosado por entre as primeiras lágrimas que escapavam de seus olhos.


Arashi: Por que eu sou tão egoísta...? Eu... eu não devo valer nada... — as mãos firmes apertavam o longo e vermelho sobretudo que usava, espremendo o tecido por entre os dedos em um movimento aflito que trazia à tona todo o sentimento até então guardado. — Não mereço sequer os companheiros que tenho...


Sentindo adagas atravessarem seu peito, Hiroshi tentou se manter firme e irredutível sem que interferisse naquele momento difícil de seu pupilo. Sabia que não era apenas a saída de Ryuuji que o perturbava tanto. Havia mais escondido dentro daquele coração tão grande; mais atrás daqueles constantes sorrisos que exibia.


Arashi: Eu não... eu sequer consigo ficar feliz por ele... EU NÃO CONSIGO OLHAR PARA ELE E DIZER UM PARABÉNS SINCERO! — sua voz elevou-se enquanto judiava de si mesmo pelo que sentia. Sua cabeça finalmente se ergueu para fitar a face de Hiroshi, deixando com que o último visse suas lágrimas escorrerem. — Me diz... por quê eu sou tão desprezível...?

Hiroshi: Você não é.

Arashi: EU SOU SIM!! — respondeu de volta com os lábios trêmulos. — O Ryuuji merece isso tudo! Ele fez por merecer! Mas... mas... eu só sinto inveja por não estar no lugar dele. COMO POSSO DEIXAR QUE ELE ME CHAME DE AMIGO DEPOIS DISSO?!


O último grito lançado pelo Senju conseguiu colocar para fora o que estava tão preso em seu peito, extravasando o que o amargurava. Ver seu companheiro tendo constantes evoluções enquanto simplesmente permanecia em inercia com suas habilidades causava uma enorme dor que, inevitavelmente, suprimia a felicidade pelo outro. Aquilo corroía o rosado de uma forma inexplicável. Não queria sentir isso mas, por mais que tentasse, não conseguia evitar.

Com uma pesada respiração, Arashi retomou o fôlego. As lágrimas ainda caíam com os conflitantes pensamentos que o cercavam. Hiroshi passou a se aproximar.


Arashi: Ryuuji está se tornando um Anbu... Misaki está resolvendo alguns casos na Divisão de Inteligência... e eu sou um mero Genin que assiste eles. E sequer consigo ficar feliz com as coisas boas que acontecem com eles... — as mãos, até antes no casaco, se moveram para a face em uma tentativa desesperada de conter as lágrimas. — Eu sou uma escória em tudo. Não sirvo para ser um ninja. Não sirvo para ter amigos. Não sirvo par- — interrompido por um braço que o entrelaçou, se viu preso em um abraço de Hiroshi que conseguia dizer: está tudo bem.


As lágrimas continuaram a cair enquanto devolvia o forte abraço. Conseguia sentir tamanha afeição que pouco a pouco aquelas nuvens pesadas se afastavam, dando abertura para uma estrelada noite acima de sua cabeça.

Os dois permaneceram daquela forma pelos próximos minutos até que Arashi se acalmasse e o choro cessasse. Se afastaram um pouco, Hiroshi mantendo suas mãos sobre os ombros do mais novo, ainda tentando confortá-lo. Os olhos azulados transmitiam todo o orgulho que sentia pelos seus pupilos e a extrema felicidade por poder compartilhar mesmo dos momentos ruins. Eram a família de Hiroshi, afinal.


Hiroshi: É perfeitamente normal se sentir dessa forma por não evoluir como os seus companheiros. É normal sentir inveja. Isso é o que te faz ter a maior força de vontade, te faz nunca desistir e ter o maior coração que eu já vi até hoje — disse com um sorriso no rosto, logo voltando o olhar para o céu novamente estrelado. — Ah, vai fazer sol amanhã.

Arashi: Sensei? — perguntou sem entender.

Hiroshi: Sei de um lugar onde você poderá evoluir as suas habilidades e se tornar um ninja tão habilidoso quanto os seus colegas — afirmou. — Me encontre na frente do hospital amanhã durante a tarde.


Konohagakure, Hospital — 18 anos atrás

O céu através das janelas parecia fotografias repetidas coladas às paredes brancas do hospital. O azul era brilhante e claro, quase branco, e o sol erguia-se majestosamente, iluminando toda a Vila da Folha. O único pensamento na mente de Arashi era que Hiroshi havia acertado: aquele dia seria ensolarado. O pupilo seguia o seu mestre em silêncio, deixando seus olhos passearem pelos corredores. Eram espaçosos e impecáveis, conseguindo enxergar o próprio reflexo na cerâmica branca que cobria o chão, quando a luz do sol não refletia nela. Vez ou outra, médicos passavam por si, cumprimentando-os, mas alguns deles corriam aflitos e apenas desviavam com graça.

O garoto Senju ainda não entendia por que Hiroshi o trouxera ali. Nunca dera muita bola para hospitais, afinal, graças ao seu sangue, sempre tivera uma boa constituição, não necessitando de ajuda médica frequentemente e seus companheiros de time eram bons o bastante para não ferirem-se gravemente em missões. Estaria o Yamanaka pensando que ele estava doente? Talvez o achasse louco depois da “cena” da última noite.


Arashi: O que estamos fazendo aqui, sensei? — falou pela primeira vez desde que adentraram o hospital. Mesmo de costas podia notar que Hiroshi sorria.

Hiroshi: Você sempre se perguntou por que ficava à sombra dos seus companheiros de time, não é? — perguntou o mais velho, sem voltar-se para trás e ver o olhar dourado apagar-se. O ruivo murmurou alguma coisa que mais parecia um engasgo e Hiroshi continuou. — Eu sempre estive os observando, tentando trazer o máximo dos seus talentos dentro do que vocês queriam para si, mas você sempre foi diferente. Seu coração é enorme e isso faz com que você sempre olhe por quem você ama. Sei que acredita que sabe o que você quer, mas em algum momento olhou para si mesmo? Tem certeza de que caminho quer seguir à partir daqui? — o loiro parou subitamente e Arashi também o fez. — Quem você quer que Senju Arashi seja à partir de hoje?

Arashi: Sensei, eu... — tentou responder, mas as palavras o atingiram como tapas. Involuntariamente, suas memórias o levaram a momentos do passado. Sempre estivera às costas de Ryuuji e Misaki, apoiando-os em seus objetivos mesmo que pouco. Suas preocupações sempre envolveram os dois e não hesitaria em dar a própria vida para eles. Dizia querer se tornar um grande ninja, mas nunca soubera como realmente fazê-lo e nem sabia se tinha capacidade para tal. Ver-se no futuro era difícil e conseguia apenas visualizar uma tela em branco. Não sabia quem era Senju Arashi agora, como saberia quem era ele no futuro? — Eu não sei.


Hiroshi deu meia volta, fitando Arashi com um sorriso no rosto.


Hiroshi: Quando o seu professor na academia separou os times, colocou junto de Ryuuji e Misaki, que sempre tiveram ideias muito concretas de si mesmos no futuro, pensando que eles o motivariam a traçar o próprio caminho. Ryuuji sempre fora um shinobi nato, ótimo em todas as área, enquanto Misaki tem uma mente afiada e assombrosa, uma verdadeira gênia; não era difícil extrair o melhor deles. Mas você sempre foi diferente, sempre mostrou-se uma incógnita, apesar de ter muito mais potencial do que eles. Você apenas não o encontrou — contou, notando o olhar confuso do aluno sobre si. — Entretanto, eu posso ver. Eu finalmente entendi. Você, mais do que Ryuuji e Misaki, sempre mostrou um grande potencial para Ninjutsu, seu controle é muito melhor do que o de seus companheiros, mas você nunca encontrou o poder que se adeque, por isso não destacou-se em nada nesses anos. E é por isso que eu te trouxe aqui.

Arashi: Sensei, você quer dizer... — começou Arashi, já entendendo a visita ao hospital. O sorriso do Yamanaka alargou-se.

Hiroshi: Vamos falar com a Aya. Ela te instruirá melhor —concluiu, abrindo uma das portas naquele corredor e permitindo que Arashi visualizasse a sala.


Era um espaçoso escritório com paredes em um tom de rosa muito claro, tomadas por várias estantes e armários. As estantes eram lotadas de livros e pergaminhos variados, mas apenas com o olhar não conseguiria deduzir o seu conteúdo. Havia uma única parede sem estantes e esta possuía algumas poucas fotografias emolduradas de rostos que Arashi não reconhecia, mas sabia que se tratavam dos últimos chefes do hospital. À frente dessa parede, havia uma escrivaninha de madeira, com uma pilha de arquivos em cima e algumas fotografias de Yamanaka Emiko e Hiroshi.

Apoiada na escrivaninha, com as mãos na cintura, estava uma mulher de cabelos louros que chegavam até o final das costas. A pele clara parecia reluzir à luz do sol que entrava pela janela e os olhos verdes eram cheios de vida. Trajava um vestido azul escuro até os joelhos e um único cinto bege, com um jaleco branco do hospital por cima de tudo. Ela fitava Arashi com um sorriso no rosto. Aquela era Senju Aya, esposa de Hiroshi.

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Hiroshi: Trouxe Arashi, como eu havia dito — disse à esposa.

Aya: Bem-vindo, Arashi-kun — cumprimentou o garoto, enquanto este adentrava a sala e fazia o mesmo. — Estou ciente da sua dificuldade em descobrir o seu próprio caminho como um shinobi. Não é uma decisão fácil, mas ficarei contente se puder guia-lo nas artes médicas, se você desejar dar uma chance ao Iryo-Ninjutsu.

Arashi: Iryo-nin? Eu? — murmurou o rosado, surpreso.

Aya: São pessoas como você, que se importam verdadeiramente com a vida, que se tornam os melhores médicos. Você tem o talento e o coração necessários para esse caminho — a mulher estendeu a mão para Arashi. — Está disposto a conhecer um pouco sobre nós?


Arashi fitou a mão estendida para si por alguns segundos, hesitante sobre a decisão que deveria tomar. Tal possibilidade nunca lhe passara pela cabeça. Era difícil imaginar-se como um futuro Iryo-nin, mas saber que poderia fazer mais pelos outros, lhe era uma ideia agradável. Deixou um sorriso aparecer em seus lábios e apertou a mão de Aya. Seria o primeiro passo para encontrar o futuro Senju Arashi.


Konohagakure, Centro de Treinamento da Anbu — 17 anos atrás

Passos em grupo se direcionavam ao vestuário masculino da agência, a qual era responsável pela designação de membros anbus para missões, todos se movendo em conjunto enquanto os shinobis conversavam entre si. Os mais velhos e experientes tentavam puxar assunto com os recentes membros, os quais também se enturmavam na medida que se acostumavam ao novo local. Entretanto entre eles havia Ryuuji; em silêncio, acompanhava os novos colegas até se separarem por entre os armários roupeiros de aço.

Friamente o moreno se movia, alcançando o seu vão correspondente e o abrindo com um olhar derrotado. Era inegável a falta de humor estampada em sua face, somado com o olhar fatigado. Antes, encarar suas vestimentas de Anbu dobradas com a máscara de águia por cima era uma conquista, agora tornava-se um peso.
Não poderia mais remediar e tomou as vestes pelas mãos. Neste instante que, com o vão vazio, seus olhos foram de encontro com a única decoração que fizera: uma foto de sua época de genin, tirada quando formaram o Time Hiroshi. Um sorriso de canto formou-se por entre seus lábios. Toda a sua expressão suavizou-se para uma emotiva, aonde ali lembrava-se de tudo o que queria naquela época. Lutou tanto para chegar aonde chegou e não seria um dia difícil que o pararia.

Com um novo vigor, trajou-se com a máscara em mãos e fechou confiante seu armário.


Konohagakure, Divisão de Inteligência — 17 anos atrás

Com cuidado a porta de um pequeno escritório foi aberta, sendo empurrada pelos ombros da esbelta jovem recém admitida na organização. Misaki adentrou com cuidado ao carregar uma grande pilha de papéis e documentos, sejam eles arquivos de missões ou fichas de shinobis. Despejou a pilha sobre sua mesinha, ainda carente de decorações. Deixou que um suspiro de desânimo escapasse dos lábios com o trabalho que teria. Era isso que realmente quis para sua vida? Era o questionamento que fazia enquanto separava a papelada.

O andar preguiçoso até o longo armário trazia consigo algumas pastas que arquivaria, seus primeiros casos solucionados. Abriu a sua gaveta - a única, visto que apenas usava o escritório de alguém mais importante- e ali suas sobrancelhas se arquearam. Um porta-retrato virado para baixo. Não aguardou segundo sequer antes de tomar a foto em suas mãos e virá-la, assim esboçando uma surpresa com o que via; era sua foto de quando formou o Time Hiroshi. Sequer lembrava-se de a ter guardado.
Manteve a moldura em sua mão e arquivou os documentos. Ao levantar colocou cuidadosamente sua primeira decoração sobre a pequena mesa que trabalhava. O brilho que surgiu em seus olhos por meramente relembrar a época jovial era insubstituível.

Sentou-se na mesa de frente para a pilha de fichas à atualizar sem que retirasse os olhos da foto. Toda dúvida se dissipou; era sim aquilo que queria e a nova chama reacendeu em si.


Konohagakure, Hospital — 17 anos atrás

A luz vermelha do bloco de cirurgia se apagava. Mais uma vida salva, mais gratificações. Porém mesmo com esse trabalho explandecedor Arashi saia da ala cirúrgia com um cansado exaustante caindo sobre seus ombros, tornando até mesmo seu andar cabisbaixo. Em tão pouco tempo havia ganhado tamanho domínio das técnicas médicas que se tornou um dos maiores no comando, abaixo apenas de Aya. Mas ainda assim não conseguia sentir que estava fazendo o seu melhor; aquilo era o melhor que poderia oferecer à sua amada vila e isso o frustrava a cada dia.

Abriu a porta de seu escritório aonde poderia repousar, porém, antes mesmo que entrasse acabou por ser abordado por uma de suas enfermeiras. Havia chegado um shinobi em estado grave e já estavam o transferindo até uma nova sala ao aguardo do ruivo. Com um suspiro pediu que aguardasse. Enquanto adentrava em seu escritório a enfermeira entristecera seu olhar, semelhante ao Senju. Sua vontade de largar tudo era sentida aos demais e, querendo ou não, afetava-os.
Talvez realmente estivesse no seu limite.

Recolheu alguns materias dispostos em seu escritório, realizando a troca de jaleco também. Ao olhar para a mesa via papéis soltos, anotações e relatórios; apenas mais trabalho. Guardou tudo de essencial e se dirigiu para a saída, aonde ao tocar na maçaneta e começar a fechar a porta, encarou a parede ao fundo. Havia retratos de renomados médicos da vila, paisagens bonitas para melhorar o ambiente e, o mais importante, uma foto emoldurada de sua época de genin. A foto que marcou a formação do Time Hiroshi era a mais valiosa de suas lembranças pois nela trazia toda a empolgação de sua juventude. Era a época em que sonhava em ser o Hokage. E quanto mais olhava a moldura, mais sabia que esse sonho não havia morrido. Ser o Hokage... essa sim era a sua forma de proteger toda à vila.

Recobrado à atenção pelo chamado da enfermeira, terminou de fechar a porta com um grande sorriso. Sua jornada pelo hospital era nada menos que uma etapa aonde deveria se empenhar com gosto pois assim refletiria no seu objetivo maior. A vontade do fogo ainda era viva e queimava em seu interior.


Arashi: Façam os preparativos. Vamos salvar essa vida! — e com vigor, a enfermeira adquiriu a mesma postura enquanto assentia.


-x-x-x-


ATO IV
Konohagakure — 13 anos atrás

O sorriso refletido no espelho era largo e resplandecente. Era um dia importante e Hiroshi não esconderia o quanto estava contente. Vestia roupas casuais, porém impecáveis, as quais o Yamanaka arrumava com ânimo. Próximo a ele, sua esposa, Aya, estava abaixada de frente para a pequena Emiko, agora com doze anos, ajeitando os cabelos dourados da filha e amarrando um lacinho cor-de-rosa.


Hiroshi: Você realmente ofereceu a liderança do hospital a ele? — perguntou o homem, passando as mãos uma última vez nos cabelos.

Aya: Sim — respondeu com simplicidade. — Arashi é um médico incrível e me ultrapassou em pouco tempo. Daria um excelente líder.

Hiroshi: E qual foi a resposta?


Os olhos esverdeados da Senju moveram-se até a janela. Ao longe, podiam ver os fogos de artifício explodindo nos céus de Konohagakure, pintando-o com todas as cores. Aya respondeu o marido em seguida:


Aya: Ele agradeceu, mas disse que tinha um objetivo maior e não pararia até alcança-lo. Tornou-se um grande homem — afirmou e ambos sorriram com orgulho.


As ruas de Konohagakure eram pura animação, lotadas pela multidão alegre. Por onde se olhasse, havia música, comida e celebração. Crianças corriam por todo o lado, vestindo chapéus de Hokage na cabeça e brincando de ser um ninja. Os fogos continuavam tomando o céu, as explosões tornando-se melodia em meio às conversas e risadas. Enquanto caminhava com a sua família, era até mesmo difícil manter o foco em uma coisa só, de forma que seu olhar vagava de um lado para o outro.

Primeiro, notou uma menina gordinha de cabelos castanhos, comendo freneticamente vários doces de uma vez só. Estava de mãos dadas com uma criança pequena e magra, de cabelos azulados e olhar perdido, que Hiroshi não soube dizer se era um menino ou uma menina. Próximo a eles haviam dois meninos albinos, obviamente gêmeos, brincando animados.

Do outro lado, haviam mais dois meninos gêmeos, mas estes tinham cabelos e olhos negros. Um deles ria enquanto o irmão parecia pleno com o chapéu de Hokage no topo da cabeça. Com os dois também havia uma menina, de cabelos arroxeados, dobrando papéis com grande habilidade, mesmo tão nova.

Juntamente aos membros do clã Chinoike, havia uma garota um pouco mais velha que os anteriores, de longos cabelos brancos e olhos vermelhos. Parecia séria e contida, apesar de ter um sorriso estampado no rosto. Pouco depois, notou outra garota albina, de idade próxima à anterior, com um fogo de artifíco em mãos. Parecia concentrada e, com esforço, soprou chamas da boca no pavio, soltando o objeto que voou pelos céus até explodir lá.

O homem continuou seguindo pela rua principal até o final, chegando ao edifício da Hokage. A Shodai, Chinoike Amatsu, já estava sobre o terraço, segurando a barra de ferro com as mãos enquanto observava a vila com um sorriso no rosto. Apesar de imponente, a mulher transpassava segurança e bondade. Seus cabelos escuros balançavam com o vento, contrastando com o rosto claro e jovial mesmo para a idade que possuía. Travaja vestes negras e arroxeadas, cobertas pela armadura avermelhada. Atrás dela o Monumento Hokage agigantava-se, retratando o seu rosto com perfeição. Assim que a Chinoike elevou os seus braços, pedindo a atenção, todos calaram-se, prontos para ouvir a Hokage.

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Amatsu: Muito obrigado por estarem aqui neste dia tão importante — começou a mulher. — Eu realmente não posso expressar em palavras tudo o que sinto agora. Estou feliz por todos que deram o primeiro passo por essa vila, por todos que lutaram e trabalharam para que ela se tornasse o que é hoje. Todos vocês são essa vila e Konohagakure não seria nada sem cada um que está aqui hoje! — gritos e aplausos preencheram as ruas, aumentando ainda mais o sorriso de Amatsu. — Porém, agora é a hora de passarmos o bastão à geração seguinte, aos jovens que carregarão o nosso legado pelo futuro. Eles são a nossa esperança e nossos sonhos. Fico emocionada ter visto com meus próprios olhos, vários candidatos que carregam consigo a Vontade do Fogo com fervor e garanto que os seus ideais nos marcarão por gerações e é por isso que estou honrada de poder passar meu título para esse jovem que todos conhecem, por ter sido um grande médico, shinobi forte honrado e, mais importante de tudo, ter um coração tão grande e puro, capaz de carregar Konohagakure inteira consigo, por favor, venha cá.


De alguns metros atrás de Amatsu, surgiu um jovem alto e magro, com cabelos vermelhos-rosado e olhos dourados. Apesar de tentar parecer calmo e relaxado, estava evidente o quanto nervoso o rapaz estava. Lá em baixo, os olhos de Hiroshi brilharam, reconhecendo Arashi. Mais gritos e aplausos ensurdecedores tomaram as ruas, saudando o rosado.

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Amatsu: É com muito prazer que eu, Chinoike Amatsu, Shodai Hokage, passo a liderança da vila para Senju Arashi, agora Nidaime Hokage! — a mulher então cobriu os ombros de Arashi com o manto de Hokage, finalizando com o chapéu branco e vermelho, repousando-o na cabeça do rapaz. Mais aplausos foram ouvidos e o nome de Arashi era cantada por toda a população, enquanto fogos de artifício explodiam cada vez mais. Para a surpresa de todos, uma chuva de pétalas de cerejeira tomou o ar, como se até mesmo a própria natureza celebrasse o novo Hokage.

As festividades continuaram e já era entardecer quando Arashi já havia se encontrado com a maioria e se despediu de Amatsu. Apesar da multidão já ter diminuído, muitos continuavam em ritmo de festa. O rosado caminhou pelas ruas da vila, até encontrar cinco pessoas o aguardando em conjunto: Emiko, Aya, Hiroshi, Ryuuji e Misaki. Um largo sorriso apareceu nos lábios do Hokage enquanto este se aproximava deles, falando animadamente:


Arashi: Devemos comemorar essa noite junto no Ichiraku — afirmou com alegria.

Mas não mais como o Time Hiroshi,

E sim como a Família Hiroshi.


-x-x-x-


FINAL
Shinhõgakure, Gabinete do Hokage — Atualidade

A noite estrelada caia sobre os picos das montanhas, as quais pareciam esforçar-se para as tocar. Havia poucas nuvens a atravessar os céus, deixando que uma atmosfera aberta abraçasse a noite na vila. Os comércios nas bases das montanhas apresentavam luzes chamativas enquanto que as residências acima fechavam-se para um sono tranquilo. A única casa no alto que descumpria tal regra era o gabinete do Hokage, nas proximidades do topo da montanha mais alta da vila. Dentro estava Ryuuji, o Sandaime Hokage, ocupada de frente para sua mesa com poucos papéis à visualizar. Seu serviço estava quase terminado e logo retornaria para casa. Ao menos era o que o moreno pensava.

Repentina a porta foi aberta e seu olhar frio levantou para encarar o invasor -ou melhor, os invasores. Imediatamente rolous os tão fortes olhos azuis ao notar de quem se tratava, suspirando com pesar.


Ryuuji: Vocês não podem sair entrando assim. — repreendeu a dupla que entrara diretamente. Arashi, tendo um braço de Misaki em torno de si, apresentava um sorriso nervoso.

Misaki: Aaaaah! Vai dar chilique agora Ryuzinho? — a morena, tomada por um rosto avermelhado, arrancou um ranger de dentes do 3°. — Tira essa cara amarrada que nós te chamávamos assim antes da Emiko se apossar do apelido. — retrucou a careta, cambaleando momentanemanete.

Ryuuji: Ela por acaso bebeu? — ignorou a Nara e manteve o foco no rosado.

Arashi: Isso é uma novidade? — rebateu, sorridente. Soltou a mulher que então se aproximou da mesa do Hokage, apoiando as mãos e o olhando diretamente. — Estávamos no bar e do nada ela insistiu em vir te chamar. Queria fazer dessa noite uma grande reunião. — mesmo tentando culpar Misaki estava óbvio em sua face que queria o mesmo que a mulher.

Ryuuji: Não tenho tempo para isso.

Misaki: Acha mesmo vou te deixar fugir dessa mariquinha? — seu hálito tão perto causava ainda mais efeito em Ryuuji do que suas palavras. — Vamos lá... pelos velhos tempos! Não vai nos deixar na mão né!


Entre o olhar pidão da alterada Nara e o contente do ruivo, Ryuuji encarou sua mesa aonde estava a papelada. Ao ver algo peculiar ao lado dos papéis, se viu sem saída. Cedeu com uma feição derrotada a qual foi compreendida por Misaki, pegando-o pelo pulso no mesmo instante e puxando para trás da mesa. Arashi colaborou na retirada do Hokage de seu escritório ao envolver-lhe com um braço em torno dos ombros.


Ryuuji: Ao menos alguém tem que garantir que vocês não extrapolem o limite. — com uma desculpa esfarrapada, emitiu um sorriso de canto.


O trio saiu do escritório às pressas, fechando a porta logo em seguida. As luzes finalmente foram apagada e o escritório ficou vazio. A papelada que sobrou era tão pouca que mal faria diferença, podendo ser deixada para depois. E, ao lado dela, um porta-retrato sobre a mesa ilustrava o maior motivo da rendição de Ryuuji; uma mera foto de time, o qual Hiroshi ainda jovem havia tirado com seu trio de alunos quando genins.

F I M
Akimichi Karina
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Chunnin


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Mensagem por Akimichi Karina Seg Jan 21, 2019 1:25 am

HIDEN – T S U N O R I

Morte na Escuridão
Contos RoWIzAY

ATO I
Iwagakure — 16 anos atrás

A beleza que se contemplava do alto das montanhas escondia em suas penumbras torturas descomunais e baixaria inumana. Liderada à longos anos pelo Shodai Tsuchikage, Tadasumi Shingen, uma ditadura sólida como rocha marcava a lei de Iwagakure. Estonteante em aparência, o comércio rico da vila trazia uma alta economia graças às famílias nobres que ajudaram a erguer palácios e muros. Em custo benefício possuíam o direito da livre compra e venda de humanos, ou melhor, escravos.

A força que os nobres exerciam garantiam a construção e permanência de um Leilão. Para que sempre renovassem escravos foram instituídas leis de tolerância mínima a toda população: quaisquer traição ou tentativa de traição de um shinobi o tornaria como um criminoso, sendo colocado como escravo; caso um civil não tenha condições de manter uma renda mínima mensal seria taxado como incapaz de se sustentar, também sendo colocado como escravo. Neste último caso diversos órfãos e sem-teto foram retirados das ruas para servir aos nobres.

A vila estaria mais agradável aos olhos. Porém, é aconselhável não se observar por muito tempo ou acabaria descobrindo a podridão por baixo de cada edifício ali levantado.


Iwagakure, Leilão — 16 anos atrás

A escuridão não é o que mais assombrava as garotas e sim o que havia escondida nela. Sons ecoando por todo o anfiteatro como se fossem bestas descontroladas, brigando pelo pedaço de carne que era leiloado em um palco. Era preferível permanecer por detrás das cortinas como estavam.

Uma das garotas tremia sem conseguir conter as lágrimas escorrendo por sua face. De destacados olhos âmbares e cabelos alvos agarrava-se a sua irmã, a qual compartilhava as mesmas características recém citadas. O aperto entre suas mãos se intensificava a medida que assistiam outros humanos serem arrastados por correntes até as cortinas escarlates. A partir dali sequer eram considerados humanos. O leilão persistia animado naquela noite.

A irmã mais velha controlava suas emoções na medida em que via sua caçula chorar. Precisava assegura-la que ficariam bem.
Estavam ambas nos bastidores do anfiteatro aguardando, com o maior medo possível, o apresentador buscá-las. Correntes se chocando ecoaram próximas e arrancaram um grito assustado da menor. A mais velha por sua vez levantou seu olhar na direção do som para ter a visão nojenta do que ocorria.


Guarda do Leilão: VAMOS, ANDANDO! – exclamou o homem em fúria. Sua mão rodeada de correntes presas ao pescoço de outro, o qual resistia inutilmente. – É SUA VEZ DE IR PARA O PALCO!


Seus gritos amedrontavam ainda mais a menor. Agarrando-se na irmã, apertava-a com toda sua angústia. Estava com o mais sincero terror em sua face.

Contos Sky4TaH
Asuna: Onee-san...

Contos NkNY0tU
Tsunori: Mantenha a calma... não importa o que houver, permaneceremos juntas. – sua mão apertou com mais força a da menor. – Eu prometo.


A cada instante o número de próximos escravos ao redor dos bastidores diminuía. O medo era crescente. Sabiam que logo seriam arrastadas até lá mas um resquício de esperança lutava por pensamentos positivos.

Foi por conta de tal resquício que Tsunori sequer notou quando um guarda se aproximou das duas. Com brutalidade separou-as, empurrando as garotas para lados diferentes como se arrebentasse suas relações.
O homem apertou o braço direito de Asuna e puxou-a consigo em direção ao palco. A garota tentou se debater em vão. Tsunori se levantou para alcançar a menor antes de ser segurada pela corrente em torno de seu pescoço.


Tsunori: PARA!! VOLTA AQUI! – seus gritos acompanhavam de tentativas de agarrá-la ao esticar o braço. Não conseguiu tocá-la nem mais uma vez.


Todo esforço que fez para segurar as lágrimas desabou quando as cortinas escarlates se fecharam. Foi sua última visão da irmã em prantos pelo destino que receberam.

Desolada, os minutos seguintes se passaram como tortuosos. Não sabia mais como manter a calma. As lágrimas desciam pela face apoiada em seus joelhos. Permaneceu assim até ser subitamente puxada para cima; segurada por sua coleira, foi empurrada até o palco.
Era sua vez de ser tratada como um objeto em venda.

Holofotes mirando em cima da Kaguya como um grande prêmio a ser adquirido. Falatórios e balbúrdias ocupavam seus ouvidos com tanta pressão que sequer a permitiam pensar. Gritos carregando valores oferecidos. Por fim, um pequeno martelo decretando seu novo dono. Suas ações e vontades não pertenciam mais a si própria e sim à outro alguém.

Contos AFAcR45


Iwagakure, Mansão Morosada — 16 anos atrás

Tsunori mal lembrava-se do caminho entre o Leilão e a mansão Morosada. Sua mente parecia ter escapulido do corpo, que movia automaticamente sem qualquer esforço da albina. Todos os pensamentos dirigiam-se apenas ao momento em que deixara a irmã. Nunca mais a veria. Estava totalmente sozinha e desolada, servindo em uma terra estranha onde o dinheiro era o que mais importava. Queria fugir dali o mais rápido possível.

Em algum outro momento, Tsunori talvez achasse a mansão do seu novo lorde o lugar mais belo do mundo. O salão de entrada era alto, com o teto de vidro abobadado, mostrando a imensidão das estrelas, mas grades de metal o acompanhavam, de forma que parecia uma imensa gaiola de luxo. O chão era um belo mosaico em cores quentes, que variavam do vermelho ao dourado, em padrões minuciosamente trabalhos. No centro do mosaico havia um grande brasão dourado: um majestoso urso de pé, mostrando a sua força em meio a um aro também dourado. As paredes eram vermelhas, divididas por vários corredores que Tsunori nem mesmo imaginava onde poderiam dar, mas uma imensa quantidade de escravos perambulava para lá e para cá, trabalhando e servindo aos caprichos da família Morosada.
Após deixarem o nobre no salão, os guardas escoltaram a jovem Kaguya por um dos corredores, que dava em um lance de escadas que descia até os confins da mansão.

O porão não era nada majestoso comparado à mansão. O cômodo era apertado, considerando a quantidade de escravos que Tsunori vira anteriormente, e o teto era um tanto baixo, lhe transmitindo uma sensação de claustrofobia. Pouca luz entrava pelas janelas minúsculas pelas quais o ar entrava, mas a albina conseguia enxergar perfeitamente a pedra bruta com a qual era feito o porão. Haviam diversas algemas presas às paredes, dispostas de forma que os escravos pudessem deitar ou sentar-se, mas sempre com as mãos afastadas. Caminharam até o final do porão, onde os guardas empurraram Tsunori e prenderam os seus pulsos nas algemas.


Tsunori: Precisa mesmo disso? Não é como se eu fosse fugir. — disse, sem muita esperança. O guarda virou-se, sem esboçar alguma expressão em particular.

Guarda: Medidas de segurança para ninjas. Dessa forma não podem fazer selos de mão. — explicou rapidamente e deu as costas, indo embora e trancando a porta.


A garota deixou-se cair ruidosamente no chão, escondendo a cabeça entre os joelhos. A imagem que tinha de um futuro com a irmã, apesar das dificuldades, se tornara ainda mais nublado do que o comum. Não saberia dizer nem mesmo por quanto tempo aguentaria permanecer naquele lugar; se duvidasse, estaria morta em uma semana. Não sabia dizer por quanto tempo ficou parada daquela forma e a luz fraca que entrava pelas janelinhas parecia tão imutável quanto ela. As dores de ficar naquela posição já começavam a lhe incomodar, mas sabia que teria de aguentar tamanha tortura enquanto estivesse viva. Tsunori só percebeu que não estava sozinha quando a doce voz cortou o silêncio.


???: Ei, olá?


Tsunori elevou o olhar por um momento. Algemada à sua frente estava uma garota provavelmente da sua idade. Sua pele era clara e os cabelos castanhos lhe caíam como uma cascata ao redor do seu corpo. Apesar de ser uma escrava e parecer estar há um certo tempo ali, estava mais limpa do que os outros escravos que vira antes. Seus olhos rosados transbordavam bondade, acompanhados do sorriso. Tsunori baixou a cabeça, ignorando-a.

Contos 8bVHVhI
Megumi: Não estamos em uma situação muito boa, né...? — tentava de alguma forma dialogar, mesmo enfrentando a indiferença da Kaguya. — Sou Tsunehisa Megumi, e você?


Tsunori continuou a ignora-la, o que pareceu frustrá-la. Talvez assim desistisse de ser amigável. Porém, não foi como o esperado; a garota respirou fundo e, mais uma vez, tentou apresentar um sorriso.


Megumi: Sabe, estaremos aqui por mui-

Tsunori: Por que você continua exibindo esse sorriso falso? Não adianta fingir que está tudo bem.

Megumi: E agir com ódio da vida muda algo? — respondeu instantaneamente, mas sem soar grossa graças à voz doce, calando a albina por alguns instantes.


As cabeças de ambas baixaram-se dessa vez, o peso das palavras de Megumi se fazendo presente. Era realmente ódio que Tsunori sentia? A mente da albina era confusa, resultado do turbilhão de sentimentos somados ao desgaste que todo o seu corpo sentia. Queria chorar, gritar, quebrar tudo de uma só vez, mas estava tão atônita com o rumo da sua vida que não podia fazer muito mais do que respirar. Sua existência, à partir daquele momento, se resumiria a servir aos nobres e nada mais. O silêncio mais uma vez foi cortado por Megumi.


Megumi: Me desculpe se soei grossa. Eu só queri-

Tsunori: Tsunori — com um suspiro pesado, erguia a face para encarar o rosto da jovem. Não tinha mais forças para repelir a escrava. — Kaguya Tsunori.


Dessa vez um sorriso verdadeiro tomou o rosto de Megumi.


Megumi: É um prazer conhece-la, Tsunori-san.

Tsunori: Seria mais prazeroso se estivéssemos em outro lugar...

Megumi: Haha... é, seria mesmo... — com uma risada nervosa, tentou contornar o assunto para manter o positivismo. — Então... vamos ter algum tempo aqui só para nós duas. Por que não me conta um pouco mais de você? S-se não for um incômodo, claro...

Tsunori: Essa é a sua forma de passar o tempo aqui? — elevou uma sobrancelha. A jovem apenas acenou positivamente. — Não há muito a contar... Eu vivia nas ruas com... — sua voz falhou por um momento, tornando difícil falar sobre — com a minha irmã, desde que nosso pai morreu em batalha. Desde então vivemos despistando os guardas e fugindo da escravidão. Como pôde ver, eles nos pegaram. Acabamos de ser separadas, inclusive... acho que é a situação mais normal.

Megumi: Entendo... — Megumi não disse mais nada. Talvez soubesse que palavras vazias não aliviariam a dor da perda. Ouvir e entender às vezes eram o melhor remédio.

Tsunori: E você? Como parou aqui?

Megumi: Ah... eu era uma shinobi, recém promovida à Chunnin e tive minha primeira missão séria. — seus olhos desviaram desconfortáveis com o que contaria, desfazendo a expressão harmoniosa em seu rosto. — Eu me recusei a matar o oponente. O capitão me considerou uma traidora por dar chance de vingança ao inimigo. Me colocaram direto no leilão. — moveu a face suavemente para afastar os cabelos que lhe caíam sobre o rosto. Novamente apelou ao sorriso falso para melhorar o ambiente naquele porão escuro. — M-mas logo isso vai se resolver! Minha mãe é a sucessora do Tsuchikage e está tentando acabar com a escravidão deste país! Assim que eu sair daqui, a ajudarei a acabar com tudo de ruim!

Tsunori: Hunf... — deixou escapar uma risada contida. Megumi era realmente engraçada.

Megumi: Ei... não duvide de mim...

Tsunori: Desculpe. É que tudo isso me parece uma mera faísca de luz tentando vencer a escuridão. Mas a sua inocência é admirável.


O diálogo não se seguiu por muito tempo a partir daí. Tsunori não se sentia exatamente ruim por estragar os sonhos da menina, mas era tão fantasioso que não conseguiu conter a boca. A crueldade havia se enraizado no País da Terra de tal forma que aquela terra jamais se recuperaria. Estava podre. Irreparavelmente podre. Esperando por mais assuntos, Tsunori acabou por olhar todo o espaço à sua volta. Haviam algemas demais.


Tsunori: Não seremos só nós duas aqui, né?

Megumi: Os demais estão fazendo seus trabalhos. Limpar a casa, cuidar do jardim, servir a mesa... etc. Ouvi dizer que tem alguém que até mesmo limpa o traseiro do Morosada-sama, apesar de jamais terem admitido.

Tsunori: Nojento.

Megumi: Não é? — riu baixinho.

Tsunori: Me desculpe a intromissão, mas... e você?

Megumi: Ah... é que... meu trabalho só começa à noite — a feição confusa no rosto da albina se mostrou evidente. A jovem respirou fundo e, então, inexpressiva, continuou. — Eu sou a escrava... escrava sexual do Morosada-sama.


-x-x-x-


ATO II
Iwagakure, Mansão Morosada — 16 anos atrás

Já haviam se passado semanas de escravidão e, mesmo realizando os mesmos atos servindo a família Morosada, jamais se habituaria com aquela vida. Se é que Tsunori poderia chamar sua atual situação de viver. Sequer se sentia viva perante o que passava todos os dias.

Repousava no porão acompanhada de uma dezena de outros escravos, todos os quais já se familiarizou ao longo das semanas. Alguns eram mais quietos que os outros mas no fim todos se apoiavam. Serviam de apoio um ao outro ao longo dos trabalhos. Eram reais companheiros que compartilhavam da mesma situação precária de existência.
Por entre as frestas das minúsculas janelas se orientavam ao horário. Era noite, uma noite bem estrelada e viva por sinal. Pelo horário ainda estavam no auge da noite, o que dava-os mais tempo de descanso até o amanhecer, aonde suas tarefas se iniciavam.

Deitada ao chão com as mãos presas e separadas pelas algemas, despertou com facilidade quando a porta do porão foi aberta. Guardas surgiam na primeira instância, escoltando Megumi de volta à sua posição. Mais uma noite de trabalho se encerrava para a morena.
O silêncio reinou em respeito ao cansaço dos demais escravos e, principalmente, ao desconforto que a garota deveria estar por seu trabalho. Algemaram a garota e se retiraram do local. Tsunori, notando a cabeça abaixada da outra, preferiu não incomoda-la e fechou os olhos para voltar a cochilar.


Megumi: Ei! Pessoal...! – a voz sussurrada tentava se elevar. – Acordem!


Abrindo os olhos e levantando-os fitou o estranho sorriso que a garota estampava. Tsunori arqueou a sobrancelha assim como a maioria dos demais escravos, se entreolhando enquanto questionavam o que deu em Megumi.


Tsunori: Está tudo bem...? Precisa conversar? – questionava em tons roucos pela garganta seca, mexendo-se como conseguia para estralar seus ossos.

Megumi: Está tudo incrível! Melhor do que nunca! – novamente estranharam a repentina animação. – Eu tenho que contar uma notícia para todos vocês! – estampava um enorme sorriso de orgulho referente ao que iria dizer. – O leilão está sendo demolido!!


Facetas confusas, principalmente de quem acabara de acordar, preenchiam os rostos dos escravos. Estavam atônitos com a notícia chocante lançada por Megumi, quase como se estivessem incrédulos; o que na verdade estavam.


Megumi: Eu vi um jornal enquanto... bem, estava no quarto de Goro-sama. – poupou detalhes dos quais queria esquecer e prosseguiu. – Na cabeceira da cama estava o jornal de hoje. Mostrava fotos do leilão parcialmente destruído e a manchete dizia que estavam o demolindo! – um brilho de esperança surgiu em seus olhos. – Eu tenho certeza que isso é obra da minha mãe! Ela deve ter conseguido fazer o Tsuchikage abolir a escravidão!


Uma fagulha de esperança surgiu nos corações alheios. Compartilhavam agora do mesmo sorriso que era esboçado pela Tsunehisa. Suas vontades de crerem nas palavras da garota conduzia-os a visualizar o tão almejado cenário de liberdade. Junto a eles Tsunori também se sentia preenchida por esse vislumbre. Um futuro de liberdade logo os alcançaria.


Iwagakure, Coliseu — 16 anos atrás

Meses mais tarde, Tsunori descobriu que o ditado “a esperança é a última que morre” era uma grande mentira. Ou talvez estivesse errada, afinal, aqueles escravos não tinham absolutamente mais nada para se agarrar além daquele ínfimo, frágil e extremamente importante sentimento. Porém, podia ver claramente através de seus olhos, cada um deles quebrando assim que o chegaram ao mais novo ponto de interesse em Iwagakure: o Coliseu.

Se tivesse de descrevê-lo com uma única palavra, seria imponente. O Coliseu era uma enorme construção circular de três andares feita inteiramente de ouro. Mesmo de longe, a Kaguya já conseguia enxergar os muito bem feitos e intrincados padrões esculpidos nas paredes e a enorme porta de entrada. Parecia uma grande boca, engolindo-os para a escuridão sem fim. Seguindo pelos dois lados da entrada principal, haviam várias outras entradas, todas ladeadas por compridas colunas que iam do chão às vigas superiores. O teto era um enorme domo de vidro, e as luzes multicoloridas lançadas do seu interior formavam os mais diversos efeitos psicodélicos, embelezando ainda mais o local. Se ela não soubesse o que era aquele local, estaria impressionada.

Assim que estacionaram a carruagem de Morosada Goro, o seu senhor, Tsunori pôde dar uma breve olhada em volta. Vários nobres, alguns conhecidos e outros não, também chegavam à nova atração, seguidos pelos muitos escravos. Todos os escravos pareciam inquietos ali, o que apenas acabava por irritar os guardas e senhores, sofrendo ainda mais abusos conforme se prolongava. Tsunori não podia culpa-los, ela própria sentia o medo sufocante a preenchendo, incerta do que aconteceria dentro daquele matadouro dourado. Seu próprio senhor, Morosada Goro, estava bastante animado. No caminho, deu uma breve introdução sobre o que seria o Coliseu.
O leilão não era mais o bastante. Nobres, gananciosos, sempre ansiavam por mais e, infelizmente, o governo daquela podre vila fundada acima do mercado escravocrata lhes daria exatamente o que queriam. Agora teriam combate, sangue, morte e, por fim e bem menos importante que o restante, a compra. Teriam um imenso espetáculo de emoções e matança, protagonizado pelos desafortunados escravos.

Sem muito mais o que fazer ali fora, adentraram a nova construção. Por dentro era ainda mais desanimador. As arquibancadas já estavam todas cheias de, provavelmente, nobres, ansiando pelo início dos combates. Na parte mais baixa das arquibancadas havia uma longa faixa onde encontravam-se vários tronos feitos também de ouro e veludo vermelho e, logo atrás, um banco de pedra nada charmoso, onde Tsunori logo descobriu ser destinado aos escravos. Pelo menos não precisaria ver tudo aquilo em pé; duvidava que suas pernas aguantariam a noite toda. Já no centro do grande coliseu, havia uma extensa arena circular, três metros abaixo de onde os nobres se encontravam. O chão era de terra batida e a Kaguya imaginava ser fácil para reparar os danos após as lutas.

Mesmo que a desesperança já tivesse engolido Tsunori, a garota sabia que havia alguém em pior situação bem ao seu lado. Megumi estava completamente abalada. Mesmo já sendo pálida pela falta de sol, sua pele conseguia alcançar um tom ainda mais claro e preocupante de branco. Dos escravos de Morosada, Megumi sempre fora a mais agarrada à expectativa de deixar a vida de escrava e o choque da realidade talvez fosse demais para a jovem aguentar. E o pior de tudo: estava em um lugar onde seria obrigada a matar, exatamente o motivo que a tornara uma escrava. Simplesmente não sabia o que seria daquela garota quando fosse a sua vez de descer à arena.

Inesperadamente os holofotes surgiram e miraram em um único ponto do palco, iluminando a aparição de um homem de vestes espalhafatosas e ilustre presença. Com o uso de um microfone reverberava sua voz por todo o coliseu.


Apresentador: Senhoras e senhores! Boa noite e agradeço-lhes pela ilustre presença na inauguração do nosso mais novo anfiteatro de entretenimento, o Coliseu! – recebido por inúmeras palmas, aguardou o fim destas com divertimento. – O funcionamento dessa nova atração permitirá uma circulação de riquezas ainda maior do que a anterior, proporcionando um show ainda mais espetacular para vocês! Teremos uma noite inesquecível!


Aplausos ensurdecedores eram acompanhados de gritos exagerados de nobres, ecoando por todo o ambiente, martelando sobre seus próprios escravos amedrontados. O apresentador se moveu para dar espaço à uma nova pessoa, agora sendo o foco das atenções pelos holofotes. Acorrentado como um animal, um shinobi de cabelos ruivos era conduzido por guardas até a arena circular.

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Apresentador: Acredito que já ouviram boatos a respeito da história deste traidor. Ainda assim farei as honras de o expor para todos! – tomado pelo ânimo agia como um perfeito entretenedor. – Este homem ridicularizado se chama Noboru, conhecido como um dos ninjas Anbu de Elite da vila. Recentemente se encontrava em uma missão de espionagem em Sunagakure e, quando capturado pelos Cavaleiros do Apocalipse, revelou preciosas informações da vila em troca de sua vida. – vaias ecoavam em alto e bom som ao longo da apresentação de Noboru. – Nós estamos extremamente gratos por tê-lo em nossas mãos após tamanha traição. Contamos com a participação de todos vocês para fazê-lo pagar por seus atos contra Iwagakure. Vocês estão conosco no procedimento dessa punição?! – cativou os nobres da plateia conforme mantinha estabelecido uma comunicação, recebendo assim gritos de apoio a seu favor. – Muito obrigado! Obrigado! Sabia que poderia contar com vocês. A sua punição será a grande atração da noite, meus queridos espectadores. Por ter soltado a língua, nosso traidor aqui recebeu um selo especial que, assim que ativado, destruirá as suas cordas vocais! Vejam.


Um guarda aproximou-se de Noboru por trás, agarrando a sua mandíbula sem qualquer delicadeza e forçando-o a abrir a boca. Derrotado, o escravo esticou a língua, mostrando o complicado selo desenhado em sua língua.


Apresentador: Porém, não o faremos simplesmente! Nós daremos a Noboru a chance de não perder a sua voz – assim que o disse, a plateia pareceu confusa, começando a se perguntar o que estava acontecendo. Porém, eram tantas pessoas falando ao mesmo tempo que tornou-se apenas ruído acima de ruído. – Calmem, calmem! É por isso que ele está aqui! Para que ele conquiste a sua voz de novo, terá que vencer escravos até o nosso espetáculo acabar! Se ele for derrotado, ativaremos o selo e nos divertiremos com a sua agonia! Agora, quem se voluntaria para ceder o primeiro escravo que enfrentará Noboru?


Tsunori, sentada entre os escravos, fitava o homem atentamente. Não sabia exatamente o que sentia vendo toda aquela cena, muito menos dizer o que aquele pobre homem, aterrorizado pela morte a ponto de entregar a própria vila, deveria estar sentido naquele momento. Virou-se para o lado e, pensando que aquela menina não poderia parecer ainda mais atônita, deparou-se com Megumi, seus olhos arregalados e a expressão ainda mais chocada.


Tsunori: Megumi? – chamou a garota, que virou-se rapidamente.

Megumi: Aquele... aquele é o parceiro da minha mãe... como ele veio parar aqui? – perguntou a garota, agarrando os braços de Tsunori, demonstrando o quanto estava assustada. – O que está acontecendo? E se... e se minha mãe também... eu preciso saber!

Goro: Oh! Então você o conhece?


Tanto Megumi quanto Tsunori praticamente saltaram dos seus assentos assim que ouviram a voz do seu senhor. Morosada Goro estava em pé ao lado do seu trono, fitando a Tsunehisa com um largo sorriso no rosto e costumeira expressão perversa. Apenas olhá-lo fazia Tsunori sentir náuseas e sabia que aquele homem estava tramando algo. Megumi, abaixou a cabeça, evitando responder à pergunta do nobre.


Goro: Muito bom, então por que você não é a primeira a lutar com ele, ein? Vai ser muito, muito divertido!

Megumi: N-não... meu senhor, por favor...

Goro: Guardas! Levem ela para a arena! – exclamou o nobre e rapidamente dois guardas apareceram em ambos os lados da garota, agarrando-a pelos braços e arrastando para a arena entre os gritos e pedidos para que não fizessem aquilo com ela.


Os gritos da morena serviram unicamente para divertir os nobres espectadores. Suas preces foram inúteis, visto que logo foi atirada na arena se encontrando cara a cara com Noboru, que parecia tão surpreso quanto a menina. Os guardas retiraram as amarras no ruivo e se afastaram do centro, deixando que os holofotes caíssem sobre os oponentes.

Megumi levantava-se com cautela perante as inúmeras armas brancas dispostas pelo chão da arena, como se convidassem e instigassem seus instintos violentos à matança. Seus olhos carregavam as primeiras lágrimas que se formavam, escorrendo sutilmente por sua delicada face enquanto dirigia seu olhar ao ruivo; este que, inquieto, sofria apenas de ver o estado em que a garota estava.


Megumi: Noboru-san.... o que tá acontecendo nessa vila...? – a voz chorosa suplicava por respostas que, de alguma forma, emendar suas esperanças quebradas. – Cadê a minha mãe?

Noboru: Essa vila se afundou em trevas irreversíveis... sua mãe não foi capaz de salvá-la. – as duras palavras eram referidas à vila e, ao mesmo tempo, à garota. – Suas isenções sobre a escravidão não foram atendidas pelo Tsuchikage. Não há como ir contra os nobres.

Megumi: E-e onde ela está agora?!

Noboru: Faz uns meses desde que ela se exonerou como kunoichi. – desviou o olhar, como se sentisse um peso no que diria. – Antes de abandonar Iwagakure foi escalada como representante do Tsuchikage em uma das vilas desse país. Está cuidando de Hachogakure agora...


Ouvir aquelas palavras causavam uma forte dor no peito de Megumi, a qual se ajoelhou ao chão com as lágrimas escorrendo ainda mais. As mãos fechavam-se na terra batida e apertavam-na, marcando seus dedos com força. O choro baixo ainda podia ser ouvido por Noboru.


Megumi: Se ela não pode nos salvar... quem poderá?


O diálogo dos oponentes serviu unicamente para causar uma grande alvoroço por entre os nobres espectadores, gritando para que começassem a se matar logo. O apresentador, atentado aos pedidos, tomou a voz.


Apresentador: Vocês devem começar a combater agora! Peguem as armas à sua disposição e lutem. – as feições tão contentes foram substituídas por lunáticas. - É uma ordem.

Noboru: Eu não irei erguer arma sequer para ela. – retrucou com frieza, mantendo uma postura firme. – Jamais me perdoaria se fizesse algo contra a filha de Sawa.

Megumi: Eu... eu também não irei matar ninguém. De forma alguma. – segurava o seu choro para se assegurar de sua fala. Levantava-se com medo e receio, mas convicta do que dizia.

Apresentador: Então agora você vai se fazer de durão... – zombou do ruivo com a mesma indiferença do shinobi. Direciona seu olhar para um dos guardas ao redor da arena como uma ordem, enquanto já realizava um selo de mão. – Deveria ter feito isso contra Suna e não contra Iwa.


Nos momentos seguintes, Noboru queria gritar por vários motivos. Assim que o selo de mão fora realizado, uma forte dor tomou conta de todo o pescoço do ruivo, sentindo as suas cordas vocais sendo partidas lentamente e sem qualquer pressa. Os olhos se arregalaram e, sem forças, caiu ao chão, segurando o seu pescoço enquanto a boca abria, mas som algum saía dali.


Megumi: No-Noboru-sa-


Antes que a garota sequer conseguisse alcançar Noboru, parou repentinamente. Voltou os seus olhos para baixo, apenas para encontrar a ponta de uma espada atravessando o seu peito, o sangue vermelho escorrendo pelo recém feito corte. As mãos tentaram elevar-se até a espada, mas todo o seu corpo estava pesado demais para fazer qualquer coisa. Seus olhos elevaram-se, mas não tinham foco algum.


Megumi: Alguém... precisa nos salvar... – disse em um quase sussurro, antes de começar a tossir fortemente e o líquido vermelho ser expelido pela boca.


O primeiro sangue derramado no solo do Coliseu.

Os gritos vindos da plateia eram ensurdecedores, altos o bastante para fazer todo o Coliseu tremer, enquanto o corpo de Megumi caía sem qualquer vida e Noboru desmaiava de dor, sem nem mesmo conseguir reagir à morte da filha de sua antiga companheira de equipe. Os nobres vibravam, felizes pelo que seus olhos viam; a dor, o desespero e a desesperança daqueles seres tão inferiores a eles eram a maior diversão que poderiam imaginar. Sem dúvida alguma, o Coliseu viveria por muitos e muitos anos. Assim, a primeira e lendária edição do Coliseu se encerra, satisfazendo plenamente todos os nobres que ali puseram os seus pés e ameaçando ainda mais a vida dos tão infelizes escravos.

Horas mais tarde, um dos nobres já não estava mais tão satisfeito. Morosada Goro andava pelo escritório inquieto, ponderando sobre a noite. Apesar da diversão, perdera uma escrava realmente útil. Infelizmente, demoraria para encontrar outra garota como ela, então teria que pensar em algo para satisfazer as suas importantes necessidades diante da falta de Megumi. Suspirou, voltando-se para o guarda parado à porta.


Goro: Mande Tsunori para o meu quarto. Avise-a que à partir de agora ela substituirá Megumi.


Última edição por Akimichi Karina em Seg Jan 21, 2019 3:05 am, editado 1 vez(es)
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Mensagem por Akimichi Karina Seg Jan 21, 2019 1:26 am

ATO III
Iwagakure, Mansão Morosada — 16 anos atrás

Os sons produzidos pelos golpes já tornavam-se insuportáveis para todos os escravos obrigados a assistir aquela cena horrenda. Mais um chute fora desferido pelo guarda, dessa vez atingindo em cheio o rosto da jovem de pele muito pálida. Sem qualquer resistência, a garota caiu ao frio chão de pedra, ignorando todos a sua volta enquanto abraçava a barriga. Mais atrás, um pouco afastado da roda de guardas que volteavam Tsunori, estava Morosada Goro. O homem parecia mais impaciente que o normal, seus olhos tomados de raiva enquanto observava a escrava ser espancada sem dó.


Goro: O que estão fazendo?! Batam mais forte! — esbravejou o homem, cerrando os punhos enquanto ignorava os pedidos dos outros escravos, que apenas podiam observar impotentes toda aquela crueldade.


Os olhares voltam-se para a Kaguya mais uma vez. Sua pele extremamente branca era marcada pela sujeira e os inúmeros ferimentos que se estendiam dos pés à cabeça. A respiração era fraca e ofegante, seus olhos não focavam em absolutamente nada além da barriga que abraçava e protegia com todas as forças; Kaguya Tsunori estava grávida há sete meses. Entretanto, tal condição não fora suficiente para impedir que um dos guardas se aproximasse e desferisse outro forte chute contra as costas da garota, fazendo-a contorcer-se de dor. Mesmo assim, seu rosto não tinha qualquer expressão e sua garganta não produzia sons. Manteria-se forte mesmo diante de tal dificuldade.


Goro:Tirem a droga desse bebê de dentro dela! Rápido! Nem que matem essa vagabunda! Tirem essa maldita criança dela!


Outro guarda se aproxima, dessa vez pela frente, pronto para chutar a barriga de Tsunori, mas a garota consegue virar-se a tempo, tomando o golpe nas costas e contorcendo-se mais uma vez, tentando proteger a barriga. Neste mesmo instante, o primeiro guarda tenta pela frente, assim que o seu pé atinge a barriga da Kaguya, o alto som de ossos quebrando toma conta do porão, rapidamente abafado pelo grito agoniado do guarda, que cai no chão segurando o novo pé esmigalhado.


Guarda: Ela está… ela está usando toda a sua estrutura óssea para proteger o bebê, ignorando o resto do corpo. Tem uma grossa camada feita de ossos em volta da barriga, impedindo que qualquer coisa a afete — informou o guarda entre os ofegos, enquanto segurava o pé machucado.

Goro: E ACHA QUE EU LIGO PRA ISSO?! — gritou o nobre, irado, pegando o guarda caído pela gola. Sua voz soava alta e descontrolada, enquanto esbravejava contra o rosto do guarda. — SE A NOTÍCIA DE QUE EU TIVE UM FILHO COM ESSA ESCRAVA IMUNDA SE ESPALHAR, SERÁ O FIM DA MINHA REPUTAÇÃO! O SANGUE DA MINHA LINHAGEM SERÁ MANCHADA PARA SEMPRE!

Guarda: M-mas meu senhor, ainda temos tempo até o bebê nascer… ela não vai conseguir protegê-lo para sempre

Goro: Humph — o nobre empurra o guarda, dando as costas e saindo do porão, deixando-os algemarem Tsunori mais uma vez.

Tsunori: Não tirarão ele de mim… não importa o quanto tentem… — murmura a escrava, com a voz fraca, mas convicta.


Indignados por não conseguirem concluir aquela simples tarefa, os guardas também vão embora.

O estado abatido se tornava mais visível com a posição desleixada que Tsunori se encontrava. Algemada com os braços para cima, seu corpo jogava-se pesarosamente ao solo sem quaisquer força para se erguer. Os avermelhados hematomas destacavam-se por sua pele tão fina e esbranquiçada, seguindo até sua face e cobrindo-a com inchaços roxos nas pálpebras. Tons escarlates provenientes de seu sangue escorriam de feridas ao longo de suas vestes, manchando-as ainda mais. O principal destaque ainda era a enorme barriga, agora a mostra, a qual não compartilhava em nada do estado desprezível da albina.
Era doloroso para os demais escravos continuarem a assistir as recorrentes agressões que a grávida recebia. Era com súplicas que pediam-na para que cessasse seus desafios à Goro-sama, preocupados com a vida da jovem. O silêncio não muito durou quando um dos escravos teve a valentia de tomar a palavra.


Escravo: Você não irá aguentar mais 2 meses assim... – carregava um grande peso pelas seguintes palavras que diria. – Por favor tenha amor à própria vida e deixe que tirem logo o bebê.

Tsunori: Amor à minha própria vida...?


Sua voz trazia lentidão pela dificuldade de fala decorrente dos diversos chutes recebidos. A indagação causava um sentimento de reflexão em cada escravo ali, convidando-os a questionar junto à Kaguya.


Tsunori: O que ainda há para se amar nessa vida que tenho? O que me sobrou para amar?


O silêncio seguinte era a resposta dos demais escravos. A albina continuou.


Tsunori: Não tenho mais pais... não tenho um lar... – a cabeça mobilizou lateralmente, vislumbrando aquele nojento que residiam. – ...não tenho mais minha irmã. – retornou a cabeça em frente antes de abaixa-la, deixando pendurada. – Sem um pingo de honra sou nada mais que uma carcaça vazia sem vontade de vier. Nem mesmo podia-me chamar de viva... – o olhar abaixado lentamente focou na grande e volumosa barriga que carregava. Seus lábios eram movidos pela musculatura e contornaram um verdadeiro sorriso. – Mas agora há um pequeno serzinho vivo dentro de mim... meu pequeno e vivo Izumi...


Toda sua concepção da vida do bebê trouxe um novo fôlego para a própria e, felizmente, entendimento de sua posição para com os demais escravos. Alguns ainda não pareciam concordar mas a emoção momentânea pela dedicação daquela mulher contagiava-os a aceitar.
O escravo que havia tomado a palavra se permitiu abrir um pequeno sorriso em conjunto da Kaguya. Era como se já conseguisse visualizar a criança sob os braços da mulher, protegido de todo aquela realidade que viviam.


Escravo: Poderá protegê-lo enquanto estiver dentro de você... mas e depois?

Tsunori: Eu fugirei daqui com ele quando chegada a hora. – determinada e firme, cria com plenitude em suas palavras. – Apenas preciso ser forte até lá.


Iwagakure, Mansão Morosada — 16 anos atrás

Os derradeiros dois meses se arrastaram em conflitos diários entre Tsunori e Goro, resultando em um verdadeiro pesadelo aflito do qual todos os envolvidos se viam presos. Dia após dia a tensão somente aumentava para quando a criança saísse do corpo da Kaguya, gerando uma expectativa de um horrendo dia. Quando ele finalmente chegou jamais pensaram que seria tão catastrófico.

No início da noite fortes contrações tomaram conta de sua musculatura, a iniciar por cólicas e dores nas cotas, sinais que de imediato notificavam Tsunori da chegada hora. Recolheu toda sua energia e cuidado para livrar-se das algemas com o auxílio de seus ossos e assim tentar uma decisiva fuga, a qual constantemente era interrompida pelas recorrentes contrações que intensificavam a cada instante. Lutava contra seu próprio corpo para manter a calma e segurar os gritos de dor que tanto almejavam escapar por entre seus lábios.
O estouro inevitável de sua bolsa foi um fator surpresa que revelou sua posição enquanto esgueirava-se por entre a mansão de Goro. Os fluídos escapavam por suas pernas e andar com tamanhas dores se tornou impossível. Não tardou para que fosse localizada; naquele instante sentiu que todo seu esforço ao longo dos meses estava sendo descartado como nada.

Surpreendentemente recebeu auxílio da parte dos guardas que, a primeira instância, acorrentaram a mulher. Goro surgiu quando notificado para assistir aquele trabalho de parto. O nojo estampado em sua face era irredutível. Ver aquela mulher repugnante gerando um filho com sua linhagem em seu próprio palácio era uma tremenda afronta à sua nobreza. Poderia apenas mandar os guardas matarem-na junto do feto. Porém mandava-os realizar com sucesso o parto.

Enquanto toda a cena do nascimento de Izumi ocorria, com Tsunori impugnada e temerosa com o que ocorria após o parto, Goro apenas mantinha sua mesma expressão, o que tornava a situação ainda mais arrisca.


Fronteira entre o País da Terra e o País do Fogo, Ponte Kannabi — 16 anos atrás

Nem mesmo a forte ventania naquele dia fora o suficiente para abafar o grupo desespero e enraivecido de Tsunori. Mesmo que fraca pelo parto recente, ainda eram necessários cinco homens para segurá-la totalmente. À frente da garota, que mal conseguia enxergar o que acontecia pela forte luz solar presente na região, estava Goro, ao lado de outro guarda, este segurando um um recém-nascido enrolado em alguns panos sujos. Quando o nobre virava naquela direção, seu rosto automaticamente tomava uma expressão de nojo, evidenciando toda a repulsa que sentia pela criança.

O novo cenário era distante de Iwagakure. Após o parto, os guardas liderados por Goro levaram Tsunori e o recém-nascido Izumi, um saudável bebê de cabelos azulados, até a fronteira entre os Países da Terra e do Fogo, mais precisamente na ponte Kannabi. A ponte feita de pedras claras atravessava um extenso rio que cortava os dois países, conectando-os, ficando cerca de vinte e cinco metros da água. Os parapeitos tinham cerca de três metros, feitos de pedra vermelha ladeando a ponte pelos dois lados. Mesmo sem conseguir ver o rio, podiam ouvir perfeitamente o sol alto da forte correnteza abaixo de seus pés.


Goro: Como eu dissera antes, toda a sua luta seria em vão — disse o homem e, segundos depois, começou a rir histericamente, precisando segurar-se no grande parapeito da ponte. — Achou mesmo que conseguiria fugir com essa criança? Que conseguiria mantê-lo vivo? Que conseguiria manchar o sangue da família Morosada com essa aberração?! – as falas se tornaram mais altas graças a sua histeria, soando quase como um louco. – Você é uma piada!!


Seu último grito de deboche da imagem de Tsunori serviu como combustível para iniciar um choro alto provido do bebê. Izumi, nos braços de um guarda, gritava alto assustado com o que ocorria. Cada segundo de seu grito era como uma facada no peito de Tsunori, enquanto que também uma facada na paciência de Goro.


Goro: É por culpa da sua insolência que essa maldita criança existe! – lançou olhares de ódio para o bebê. O guarda apenas tentou aquietar Izumi às pressas. – Em resposta às dores de cabeça que você me deu nesses últimos meses lhe farei o mesmo pelo resto de sua vida. Essa aberração sofrerá no mundo sem que você possa fazer nada! – esbravejou mais uma vez, retornando à insanidade. – Ao menos até quando ela durar.


Outro grito enraivecido saiu da garganta da Kaguya, tentando a todo custo soltar-se do aperto proporcionado pelos guardas. Com muito esforço, consegue dar uma cotovelada no queixo de um deles, jogando-o para trás, mas assim que notaram, os outros guardas a seguraram ainda mais fortemente, impedindo que a garota se mexesse, sem forças para vencer todos eles e obrigada a ver seu filho sujeito à crueldade daquele homem horrendo.


Goro: Essa criança nunca devia ter nascido — reforça o nobre, evitando olhar para o pequeno Izumi ainda chorando nos braços do guarda. — E provavelmente não vai demorar até que morra. Na verdade, o objetivo é te fazer ter esperanças dia após dia de que ele ainda possa estar vivo. Essa é uma tortura ainda maior do que só matá-lo aqui.

Tsunori: Não ouse…

Goro: Jogue-o no rio — ordenou para o guarda.

Guarda: M-meu senhor… realmente precisa disso? — perguntou o guarda, aflito, ainda segurando o menino nos braços.

Goro: Cale a boca! Me dê essa criança! — gritou o homem, arrancando o recém-nascido dos braços do guarda sem jeito algum e, com um movimento brusco, jogou o bebê pelo parapeito, em direção ao rio.


Outro grito alto e desesperado arranhou a garganta da escrava, enquanto esta tentava usar as suas últimas forças para soltar-se dos guardas. Sem muito esforço, os quatro guardas a segurando derrubando-a no chão, atingindo o seu rosto com tudo na camada de terra que cobria as duras pedras, permitindo que a Kaguya apenas conseguisse ver o pequeno bebê enrolado em panos caindo velozmente em direção à água do rio. Para Tsunori não era apenas o seu filho sendo tirado de si, mas toda a sua força, seus motivos para viver, para abrir os seus olhos todos os dias. E aquela seria a última visão dos seus olhos.

Afundando o rosto na terra enquanto as lágrimas escorriam pelas bochechas, praguejava baixo, amaldiçoando Goro até o fim de seus dias. Aquele homem era o verdadeiro inferno na terra. Enquanto o fazia, nem mesmo ouvindo o homem aproximando-se de si. O nobre abaixou-se, levando a mão esquerda até os cabelos da garota e puxando-os para cima com força, fazendo-a fitar o seu rosto.


Goro: Isso. Exatamente como insetos é como você deveria se comportar — disse o nobre, próximo ao rosto de Tsunori. — Mas se pensa que os seus castigos acabam aqui — o Morosada riu baixo — está muito enganada.


O nobre então esticou o braço, recebendo de um dos guardas uma longa haste de metal com outra barra na ponta. Pela brilhante cor alaranjada da barra, podia-se deduzir facilmente que fora esquentado recentemente. A Kaguya nem mesmo precisou pensar muito para saber o que ocorria em seguida, fitando o nobre sem qualquer reação enquanto este aproximava a barra da sua face. A ardência do metal sobre seus olhos forçava-a a fechá-los em um ato de desespero, tentando minimizar os danos junto a dor. No fim a grande marca avermelhada destacada em sua face seria uma eterna lembrança do dia em que perdeu seu filho.

A dor, tanto pelo ferimento quanto pela perda do filho recém-nascido, foram seguidos pelo último grito de desespero que Kaguya Tsunori deu pelo resto da sua vida.


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ATO IV
Iwagakure, Coliseu — 16 anos atrás

Os gritos e urros ainda eram altos, mesmo quando os auxiliares apenas retiravam e limpavam o corpo restante da última luta. Fora uma grande luta, com muitas reviravoltas e uma vitória triunfante, digno do Coliseu. Era para isso que todos estavam ali, afinal. Ver escravos lutando até a morte em um combate excitante e poderoso. Com a arena de terra batida novamente limpa, o apresentador, animado e vestido em belas roupas coloridas, voltou para anunciar a próxima luta.


Apresentador: O próximo embate será entre os escravos de… — anunciou, enquanto sorteava os nomes dentro de uma caixa preta e reluzente. — Mutsuhito e Morosada!


No mesmo instante, duas figuras elevaram-se de seus tronos dourados. O primeiro era o tão conhecido Morosada Goro. Tinha uma expressão triunfante no rosto, porém, os mais perceptivos notariam que, em certos lugares entre a plateia e até outros nobres, a expressão era de desdém. Faziam pouco do homem. Sabiam coisas que, se saíssem ao sol, acabariam com a reputação do grande nobre. Goro sabia disso, mas não poderia abalar-se; o show precisava continuar.

Do outro lado do coliseu, com o belo e sereno sorriso, estava uma mulher com seus vinte e cinco anos de idade. A pele reluzia diante das luzes direcionadas para si, destacando-se ainda mais no meio de tantos nobres luxuosos. As vestes eram lindas, da melhor qualidade e a loira parecia orgulhar-se muito de tal detalhe. Os olhos de tons arroxeados eram enigmáticos, mas qualquer um que os olhasse, sabia que aquelas orbes não precisavam de esforço algum para analisá-lo profundamente. Era Mutsuhito Kaya. Após uma breve introdução sobre o nobre Morosada, o apresentador passou a falar da Mutsuhito.

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Apresentador: E deste lado temos a Lady Mutsuhito Kaya, em sua primeira aparição no Coliseu! — exclamou, introduzindo a mulher. — Como sabemos, ela é a ilustre herdeira da nobre família Mutsuhito e, agora como chefe da família, levará o grande trabalho desempenhado por esta linhagem para frente por muitas gerações! Palmas para ela, pessoal! — O apresentador mal precisou pedir. O Coliseu logo fora preenchido pelos sons das palmas e dos gritos pela mulher.



Logo após as breves apresentações, os guardas responsáveis pela organização do evento foram até os respectivos nobres, em busca dos escravos que lutariam naquela rodada. Assim que Goro fora abordado, o homem, em sua primeira luta naquela noite, voltou o olhar terrível para uma de suas escravas. A garota encontrava-se ajoelhada no chão, quieta e com o olhar vazio. A pele ainda era branca como sempre, mas o seu rosto, que um dia fora bonito, agora era marcado pela grande cicatriz em volta dos olhos. A queimadura fortemente vermelha era visível de longe e não precisavam de muito esforço para notar que a garota estava cega. Um sorriso apareceu no rosto de Goro.


Goro: Este é o seu castigo final, por tudo o que me faz passar. Aproveite a sua viagem para o inferno — disse o nobre. Quando os guardas se aproximaram para carregá-la, Goro os parou imediatamente. — Não. Deixem-na ir sozinha.


Com a ordem do nobre, os guardas apenas ajudaram a albina a levantar, deixando que esta mesmo se guiasse até a arena. Era terrível. Sem qualquer visão ou orientação, a escrava andava praticamente sem rumo algum. As risadas eram altas o bastante para serem ouvidas do lado de fora, acompanhados das zombarias e humilhações, enquanto a pobre Kaguya, perdida em meio a todo aquele barulho, trocava os pés tentando chegar ao seu destino.


Nobre: Pega ai, ceguinha! — gritou um dos nobres na plateia.

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Antes que qualquer um pudesse impedir, uma pedra não muito grande fora disparada da plateia, voando diretamente na direção da cabeça da escrava. Tsunori fora atingida em cheia, caindo no chão atordoada, enquanto novas risadas explodiam por todos os lados. Para a surpresa de muitos, o rosto da Kaguya continuava imutável. Não tinha qualquer expressão, qualquer resquício de sentimento. Era uma pessoa completamente vazia. A mulher levantou-se novamente e, após alguns momentos perdidas, encontrou a arena. Infelizmente, da pior forma. Entre a arquibancada onde os nobres sentavam-se e a terra batida, havia a diferença de três metros de altura; quando a escrava avançou demais, sem qualquer auxílio, acabou por despencar, atingindo a terra com toda a força enquanto os nobres morriam de gargalhar. Para eles, o show apenas ficava cada vez melhor.


Kaya: Será se é ela...? – a voz baixa saiu pelos delicados e finos lábios da loira. Seus olhos tão marcantes direcionavam-se exclusivamente sobre Tsunori, analisando cada passo em conflito.

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Tohru: O que disse Ohime-sama? – um de seus escravos, possuinte de cabelos brancos, questionou sua dona com respeito.

Kaya: A jovem dos boatos. – sua resposta causou indagação na expressão do escravo. – Não chegou a ouvi-los? Há uns boatos correndo à algumas semanas sobre um nobre que engravidou sua escrava, manchando toda a reputação de sua família. O bebê nasceu e foi tirado da jovem. – respondeu sem tirar a atenção da escrava oponente. – Ela deve ter recebidos castigos severos por conta disso.

Tohru: Entendo. – assim como a dona, focou na Kaguya. – Levando em conta os relatos acredito ser ela.

Kaya: Hm... – murmurou pragmática.


Os guardas se aproximaram da nobre na expectativa de levar seu escravo para a arena. Kaya somente direcionou seu olhar brevemente para Tohru indicando-o.

O olhar sombrio de Tohru, assim que entrou na arena, era tomado por pena enquanto encarava a moribunda Tsunori. Mesmo que já tivesse aceitado a nova realidade como um escravo que teria de matar seus semelhantes em um terrível espetáculo, aquela situação era demais para o homem. Era nojento, depravado. Porém, eram os nobres de Iwagakure, então era o esperado.

O que Tohru realmente não esperava era o ato seguinte de Tsunori: mesmo que desajeitada, a garota avançou contra o rapaz de cabelos prateados, sua expressão agora selvagem e desesperada. A Kaguya então desfere um soco contra Tohru que, apenas movimentando-se para o lado, desviou facilmente do golpe, segurando o braço da sua adversária no processo.


Tohru: Por favor, pare com isso — pediu Tohru calmamente, sem conseguir olhar para a garota. — Está se humilhando ainda mais para eles.

Tsunori: Parar? — perguntou a Kaguya, sua voz soando baixa e embargada, enquanto as lágrimas começavam a formar-se nos olhos brancos. — Agora que eu finalmente consegui o que eu mais quero?

Tohru: O que você…?

Tsunori: Morrer — disse simplesmente, enquanto caía ajoelhada no chão e as lágrimas escorriam pelo rosto sujo. — Por favor… acabe com isso logo. Eu não aguento mais… eu não quero mais viver… eu não consigo.


Diante das súplicas de Tsunori, os nobres incomodados começaram a vaiar, afinal, estavam ali por uma intensa luta pela vida, não uma escrava inútil pedindo para morrer. As vaias e xingamentos atingiam a Kaguya cada vez mais fundo, inundando-as com sentimentos muito mais fortes que a simples vontade de morrer. Estava cansada, derrotada, aquele era o momento para expulsar tudo o que sentia, afinal, qualquer que fosse o resultado, aquela arena seria a sua sepultura. Da sua mão direita, um afiado e branquíssimo osso é expelido, sendo aproximado do braço esquerdo logo em seguida. Com um grito de fúria, alto o bastante para abafar as vozes e fazê-los se calarem, a escrava faz um extenso corte na carne branca, derramando o sangue na terra batida da arena.


Tsunori: ESTOU SATISFAZENDO A VONTADE DE VOCÊS ASSIM?! — gritou a mulher.


Silêncio.

Tsunori: Riam mais! Zombem mais! VOCÊS SÃO MELHORES QUE UM LIXO COMO EU OU NÃO?! — continuou a gritar, recebendo apenas olhares estupefatos da plateia. — APROVEITEM O SHOW!

Após a última frase, os nobres que assistiam aos espetáculo retornaram do seu transe, urrando e gritando, agora pedindo pela morte da escrava. Atrás da escrava, Tohru permaneceu parado, fitando a cena enigmático. Soltou um suspiro pesado, enquanto aproximava-se da escrava realizando rápidos selos de mão. Tocou uma das mãos nas costas da Kaguya, de frente para o seu coração.


Tohru: Será rápido e indolor — afirmou o homem sem rodeios. — Você será lembrada eternamente por mim. Torço para que encontre a sua família do outro lado. Você encontrará um lugar melhor, não tenho dúvida.

Tsunori: Obrigada — a garota agradece, fechando os olhos e esboçando um mínimo sorriso nos lábios rachados. — Eu vou encontrar a minha irmã e meu filho, finalmente…


Os gritos vindos da plateia se intensificam, ansiando cada vez mais pela morte da escrava. A técnica de Tohru se intensificou, enquanto o chakra envolvia toda a sua mão, criando uma estranha e intensa vibração contra as costas da mulher. Tsunori respirou fundo, tentando relaxar. Era o que ansiava desde que perdera Izumi. Lutara sem parar a vida inteira, mas o seu tempo naquela terra estava esgotado. Não tinha mais qualquer propósito para abrir os seus olhos no dia seguinte. Agora nem mesmo conseguiria enxergar o amanhã.


Tohru: Seja forte — murmurou, afastando a mão envolta de chakra, enfim desferindo um golpe contra as costas de Tsunori.

Kaya: PARE!


O grito desesperado e nada gracioso percorreu toda a arena, chamando a atenção de todos naquele recinto. Tohru parou o seu golpe no mesmo instante, fitando a sua senhora com um olhar aliviado, diferentemente de todos os nobres ali, que a observavam enfurecidos, ainda aguardando pela morte da insolente escrava; porém, nenhum deles ousou se posicionar contra a herdeira de uma das mais poderosas e influentes famílias de Iwagakure.


Kaya: Eu comprarei essa escrava. Tohru, traga-a aqui.

Tohru: Sim, minha senhora — concordou o rapaz de cabelos prateados, logo estendendo a mão para Tsunori. — Hoje Kaguya Tsunori realmente morreu na escuridão, porém, uma nova nascerá. Acredite em ohime-sama. Agora vamos, levante-se, vamos para casa.


Os olhos esbranquiçados de Tsunori voltaram-se para o escravo a sua frente, mesmo que não o vissem completamente. Sua expressão era de incerteza, confusão pelo o que ocorreria se aceitasse aquela oferta. Para ela, não tinha mais sentido algum continuar vivendo, então por que recebera uma nova chance? Seus olhos então baixaram até o osso que ainda segurava na mão direita. Sem pensar muito, largou o osso no chão e, com a mesma mão, segurou a de Tohru.

Realmente, Kaguya Tsunori morreu ali.


Iwagakure, Palácio Mutsuhito — 16 anos atrás

O palácio, construído como um castelo tradicional, se apresentava maior do que qualquer mansão dos demais nobres do bairro em que estavam, quiçá de toda a vila. A quantidade exorbitante de cômodos trazia uma imensidão desconfortante, como se pudesse caminhar por todo ambiente sem achar um fim. Este era o ambiente do qual Tsunori passeava acompanhada de sua nova dona, Mutsuhito Kaya, a qual apresentava-a com calma seu novo lar. A beleza e riqueza em detalhes se assemelhava aos da mansão de Goro. Paredes vermelhas com detalhes de ouro para qualquer lado que olhasse. Quadros decoravam o ambiente com as linhagem da família, carregando sempre o brasão de renome. Este era o principal orgulho dos Mutsuhito’s.

A característica mais notada por Tsunori foi o aspecto saudável que se encontrava em cada criado passado. Seja seu próprio oponente do Coliseu ou os demais. Sempre apresentavam em boas condições sem quaisquer maus tratos. Era como se sequer vivessem a realidade de escravidão que a Kaguya viveu; se perguntava se realmente eram escravos.

Kaya cessou o tour por seu palácio em frente à uma sequência de portas. Mesmo que sendo as mais simples do palácio ainda traziam nobreza em seus detalhes, como a maçaneta de ouro puro. Tocando a maçaneta e girando-a, abriu espaço para que a albina avistasse o cômodo que lhe era apresentado.


Kaya: Este será seu novo quarto. — ironicamente Tsunori sequer sabia o que era um quarto.


A claridade entrando pela janela de vidros espelhados permitia a visão perfeita da pequena suíte. A cama, de madeira escura, apresentava um recheado colchão de grande volume acobertado por belos panos magenta. Um armário simplório com criado mudo de mesma madeira da cama estavam em destaque, além de uma porta ao canto de um cubículo que formava um banheiro privado. Era uma conforto jamais idealizado. Aquela mudança tão repentina de vida não soava real na mente tão perturbada da Kaguya.

A passos breves caminhou pelo ambiente olhando ao redor. Era simples mas tão acolhedor. E, quanto mais olhava, mais questionava-se que tipo de brincadeira era aquela. Abalada, sentou na cama para somente continuar a se questionar no quão desesperançada estava a respeito de continuar a viver.


Kaya: Os horários de refeição logo serão pregados aqui na parede de seu quarto. — retomou a atenção para si durante suas instruções. — Não precisará fazer nenhum serviço doméstico. Apenas mantenha a higiene em seu próprio quarto para não ocupar os demais serviçais. — sua fala gerou dúvidas que facilmente eram visíveis na face desorientada da Kaguya. — É que possuímos os escravos domésticos e os escravos guarda-costas. Acredito que os nomes sejam auto explicativos — manteve sua pose de soberania enquanto explicava ainda mais. — Mas não que seja algo do qual precisa se preocupar.



A cada nova informação dada pela nobre mais e mais confusa se tornava a mente da albina. Seus desejos tão fortes pela morte, clamando-a para que se apressasse, ainda estavam enraizados em seu todo seu peito. Queria mais do que tudo morrer e, agora que era tratada como uma humana, encontrava-se sem direcionamento. Estava tão disposta a entregar sua vida de graça que tais ações vindas de Kaya somente pareciam ilusão; como um genjutsu que a faria ter esperanças para em seguida destruir tudo mais uma vez. Kaya estava somente brincando com a Kaguya como qualquer outro.

O silêncio absoluto do ambiente contribuiu para o desconforto que a nobre apresentava. Com um aceno se virou para a saída. Neste instante Tsunori se despertou de todos os pensamentos conflituosos com seu principal questionamento:


Tsunori: Por que está fazendo tudo isso...? Vocês de Iwagakure pretendem perpetuar meu sofrimento por mais quanto tempo? — a voz elevou-se em um grito sincero de revolta com o que ocorria. — Eu queria ter morrido lá na arena! É a minha vontade.

Kaya: E eu queria ter te comprado. — de costas, retrucou com o orgulho ecoado em sua voz. Lentamente moveu a cabeça e entregou-a um olhar superior. — Foi a minha vontade.

Tsunori: Sempre são suas vontades que superam... o que ganham com isso...?

Kaya: Nada. — seu tom de voz diminuiu enquanto devolvia o olhar para frente encarando a porta que pretendia sair.


No fim das contas o que ocorreu seguiu exatamente o que já estava consolidado no vazio existencial da Kaguya. Não havia nada além de escravidão.


Tsunori: E por quê?

Kaya: Para te libertar. — a fala saiu com um pesado suspiro. Abrindo a porta, olhou pelos dois lados do corredor em garantia de que ninguém passava naquele instante. Deixou Tsunori atônita até que finalmente voltou seu olhar sob ela. — Você tem um mês para ficar aqui. Descanse, se recupere e volte para sua família ou casa. Não te comprei para ser escrava doméstica ou guarda-costas... apenas tive pena. — suas palavras atingiram a albina fortemente. Enalteciam o quão humilhada Tsunori estava naquele Coliseu, suficiente para até mesmo Mutsuhito Kaya sentir dó de si. — Satisfeita com a resposta?


Calada, processava a informação atirada contra si. Seus olhos, esbranquiçados e quase sem visão, refletiam seu interno. Estava tentando se descontruir de que morreria naquele sofrimento e que agora teria liberdade. Mas para qual finalidade? Não havia para onde ir ou o que fazer. Na realidade, sequer sabia mais o que significava liberdade. Como poderia usufruir de algo que nunca lhe foi apresentado.


Kaya: Estou me retirando. Mais alguma coisa?

Tsunori: Não...


Dito e feito, a esbelta nobre atravessou a porta anteriormente aberta e empurrou após passar, deixando-a encostada. O som do ranger da porta foi o último ecoado naquele quarto.

Sentada em sua cama abaixou a cabeça, fechando seus inutilizados olhos para entrar em seu mais profundo vazio. Aquele vazio era sua proteção; sem sentimentos, sem vida, carregava cada marca de sua inútil vida como uma pesada cicatriz no corpo. Eram cicatrizes tão fundas para se remendar. Continuar a viver com elas seria revivê-las a cada dia. Não se sentia minimamente capaz de continuar vivendo daquela forma; eram tantas amarguras que somente a morte encerraria seu sofrimento.
Por que viveria? O que teria para proteger? O que a faria levantar todos os dias? Ainda havia sobrado algum resquício de sua existência naquela carcaça vazia cicatrizada? Questionamentos sem respostas. Ou melhor, questionamentos com respostas unicamente negativas.

O tempo passava e permanecia daquela mesma forma. Sua mente já havia viajado por diversas memórias, das mais dolorosas às mais reconfortantes. Era como se pesasse qual foi mais abundante em sua vida para tomar alguma escolha. Graças a tal estado de espírito não ouviu a porta se abrir e, menos ainda, algo se aproximar.

A sensação de queimação inundou a face de Tsunori mais uma vez. Em um reflexo recuou para trás eufórica; começava a ter a dor da haste de ferro quente queimando seus olhos mais uma vez. Mas não passou de um susto ao, com calma, analisar que a dor não fora tão grande assim.
Com dificuldade abriu os olhos, tão inchados e danificados, que demoraram para reconhecer o que estava à sua frente. Um pano com alguns cubos de gelo se afastava após ter feito contato com sua face. Segurando este pano estava as mãos delicadas de Kaya, com as mangas de seu mais esbelto quimono dobradas; não bastasse isso a nobre estava ajoelhada em frente à Tsunori. Imaginar que os quimonos compostos pelos tecidos de maior valor de Iwagakure, os quais compraria vidas de escravos, tocavam ao chão neste momento somente para o ato que Kaya realizava. Ao seu lado ao chão havia um balde de água e gelo, o qual o pano era molhado pela nobre.

Não houve diálogo ou qualquer expressão por parte das duas mulheres que pudesse expressar aquela cena impensável. Era como se o que restou dos olhos de Tsunori a pregasse uma peça. Incrédula, manteve estática enquanto tentava conferir se o pouco que via era realidade.
A porta do quarto fechava ocultava a cena de uma das maiores nobres da vila levando o pano lentamente até a região queimada na face de Tsunori, a qual não recuou desta vez.

O silêncio era contínuo. A situação jamais pensava causava esse dilema se falariam algo ou não; e ainda pior, quem falaria primeiro. Ainda sem encontrar a justificativa para o que Kaya fazia, a albina agarrou-se na possibilidade mais cabível.


Tsunori: Isso... is-isso também é por pena? — balbuciou assim que o pano foi afastado de seu rosto.

Kaya: Isso? — retornou a pergunta. Sua mão tão delicada de quem jamais havia feito algum trabalho manual levava o pano até o balde, molhando-o novamente. Sua expressão era misteriosa. Parecia impossível de se ler a Mutsuhito. — Não.


A resposta tardia apenas colaborou para que continuassem caladas. O pano mais uma vez encostou sobre a face de Tsunori, a qual esboçou uma careta de dor. Permaneceram assim até que o pano foi novamente retirado.


Kaya: É você, não é? — a pergunta sem direcionamento escapava dos lábios curiosos da loira mais uma vez.

Tsunori: Hm...?

Kaya: A grávida do nobre que tiraram-lhe o filho. — a voz tão autoritária recebeu um tom suave que harmonizava com sua graça natural. — Eu soube assim que te vi.

Tsunori: E o que tem haver com “isso”? — retornou sua pergunta anterior sem conceder uma resposta clara.

Kaya: Eu não sei dizer... e-eu...


Pega de surpresa, calou-se. Levou mais uma vez o pano ao balde enquanto sua mente trabalhava em diversas respostas mas nenhuma delas era cabível. Quando novamente o encostou sob a face de Tsunori para terminar de limpar o ferimento soube de onde viria sua resposta.


Kaya: Eu sempre sonho em ter um filho. É o meu mais sincero desejo. — seu coração era aberto naquele momento. Sua humanidade era expressada acima de suas vestimentas, agora alcançando o chão. — Ensiná-lo cada pequeno passo de sua vida... dá-lo um caminho melhor do que eu mesma percorri. Ver seu crescimento com amor sabendo de onde ele veio. Ter esperanças de que ele será seu maior orgulho. — divagou sem perder a delicadeza no movimento da mão. Seus olhos traziam um brilho e sua face tão pragmática abriu espaço para um sorriso. — Deve ser fantástico criar sua própria família... — respirou fundo, perdendo um pouco do brilho que teve. — ...em vez de ser largada para ser criada por criados.


Lentamente o pano foi retirado após finalizar seu trabalho. Não tardou para que, assim que seu rosto pudesse ser avistado, Tsunori o abaixasse afim de deixar suas madeiras albinas cobrirem-no. Por entre cada fio branco escondia a vermelhidão das queimaduras de sua face, das quais dolorosamente escapavam lágrimas. Não eram lágrimas por Kaya; eram lágrimas por lembrar de sua última visão perfeita: Izumi sendo atirado ao rio. Ter vislumbrado junto com a loira a evolução de seu bebê foi doloroso o suficiente para, de alguma forma, arrancar sentimentos de seu vazio interno.


Kaya: Você compartilha desse mesmo pensamento, não é? Não teria ido tão longe por um filho se não o tivesse. — levou o pano ainda em mãos até a face branca, limpando uma lágrima que escorria. — Quando soube da sua história fiquei desacreditada. Saber que havia por aí uma pessoa tão dedicada em proteger sua família... foi a coisa mais impressionante que já aconteceu nessas terras. — cada mísera palavra trazia à tona a verdadeira Kaya. Não havia encenação ou planejamento, somente sinceridade. — Eu estava ansiosa para poder conhecer essa mulher... e aí eu te vi lá. Eu não acreditei.


O pano que limpava as lágrimas da Kaguya foi afastado, sendo colocado dentro do balde. Era como se Kaya permitisse que as lágrimas caíssem agora, o que não foi poupado por Tsunori. Tantas imagens a viam na mente; cada vontade que teve naquela arena, cada riso que ouviu, cada segundo do qual sentiu sua vida valer nada a ninguém. Não estava em condições de responder à nobre, somente ouvi-la mais.


Kaya: Aquela garota desistindo de sua vida... desistindo de tudo. Aquela não podia ser você. Não era a mesma pessoa que lutou contra um mundo por um filho. — de uma só vez firmou suas ambas mãos sobre os ombros da Kaguya. Intensificava o aperto como se transmitisse com veracidade cada sentimento que emanava de seu corpo. — E sabe porque não era a mesma pessoa? Porque VOCÊ É FORTE. — o peso que concedeu para suas últimas palavras fizeram-nas ecoar por aquele quarto. — O que ocorreu hoje no coliseu foi uma decaída gigantesca da pessoa que lutou por tanto tempo pelo o que acreditava. A decaída de uma pessoa que nunca deixou de lutar. Cair tanto assim e ainda ser capaz de se levantar... é o maior ninjutsu que alguém poderia ter. E eu não consigo crer que a mulher do boato não o tenha. — alegou com sabedoria. Estava firme em suas palavras e, correspondendo a tal firmeza, se levantou. Sua postura agora trazia orgulho e poder para o que diria. — Essas tragédias seguidas foram uma queda que jamais será esquecida. Então consegue vislumbrar o quão grandioso será seu levantar?! Ele será um marco na história shinobi! Você não pode deixar um coliseu te parar antes de chegar até lá! Você ainda não fez o mundo conhecer QUEM É TSUNORI!! — elevou sua voz mais uma vez, arrancando mais lágrimas da jovem. — E o mundo irá saber disso. Isso é uma garantia que eu te dou. E pode ter certeza que serei a que mais aguardará esse dia.


As fortes palavras ecoavam pela mente da albina, repetindo diversas vezes somadas à momentos difíceis dos quais passou ao longo do ano. As lágrimas não deixavam de escorrer pelos inchados olhos, agora sem um motivo exato do porque estavam caindo.
Notando o quão reflexiva a menina estava decidiu que não a incomodaria mais. Kaya se direcionou para a porta, pegando o balde por sua alça e seguindo.


Kaya: Estarei em meus aposentos. Qualquer dúvida pode perguntar ao Tohru. — indicou uma última vez, girando a maçaneta.

Tsunori: Kaya-sama! — um grito inesperado parou a nobre.


O movimentar de Tsunori foi rápido como se suplicasse para que a mulher não saísse. Se ergueu de sua cama e ajoelhou semelhante à nobre. Apoiando as mãos no chão, inclinou seu corpo e encostou a testa, entrando em uma pose de completo respeito e súplica para a loira.
Olhá-la como uma servente fez mais uma vez Kaya sentir pena da albina.


Tsunori: Eu... e-eu... — falava por entre soluços com a voz embargada. — eu não tenho nada... não tenho p-para onde voltar... para onde ir. Nem quem proteger... é tudo um vazio que não dá sentido à minha vida. — a verdade em suas palavras causavam ainda peso à Kaya, como se aquela vida não pudesse mais ser salva. — Eu não posso viver sem ter o que proteger... — com lentidão começou a erguer sua cabeça, permitindo que a visão de seu rosto escorrendo lágrimas fosse visto. Seus olhos, com visão dificultada e embaçada do choro, pareciam uma única vez ser limpos por completo para conseguir ver com perfeição a imagem de Kaya. — Se você puder me dar um... eu suplico... me deixe proteger a sua vida com a minha... não há nada mais de tamanha importância que possa me dar alguma luz.


No instante seguinte a cabeça novamente foi abaixada, encostando a testa no chão. Aquela imagem tão servil não agradava aos olhos da loira; esperava deixá-la livre. Entretanto era inevitável a escolha da albina em se agarrar na única luz que seus olhos captaram após tanta escuridão.


Kaya:  Bem... se isso te agrada. — falou com um enorme suspiro enquanto rolava os olhos. — Amanhã mesmo você começará os treinos como minha futura guardas costas. Eu conto plenamente com você, Kaguya Tsunori.


-x-x-x-


FINAL
Shinhõgakure — Atualidade

Sentada ao chão de uma megera cela, Tsunori parecia ter voltado ao sofrimento que tanto viveu; sem lar, presa e sem luz. Mas dessa vez conseguia ver claramente uma imagem em sua frente. Como se qualquer ferimento anterior em seus olhos estivesse sendo retido, sendo incapaz de prejudicá-la naquele momento que tanto aguardou. Em sua frente estava uma única imagem completamente focada sem quaisquer alterações: um jovem, de cabelos azuis, pequenos chifres como os seus e um quimono rosa. Estava do outro lado da cela, olhando-a da mesma forma que o olhava. E podia nele ver mais uma vez sua luz.

As pernas se firmaram para que levantasse daquele estado deplorável do qual nunca mais almejava retornar. Os passos lentos levavam-na de encontro com o garoto e, quanto mais desejava-o abraçar, encontrava-se de frente com as barras da grade de ferro impedindo-a. As lágrimas que já escorriam pelo rosto e os lábios trêmulos focavam em somente vê-lo. Moviam-se com lentidão para lançar-se uma única pergunta.


Tsunori: Você... é o meu Izumi?
Akimichi Karina
Akimichi Karina
Chunnin


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